Obrigada, de nada.



Ih, cansei.
Cansei. Cansei. Cansei.
Não agüento mais!
Estou sem forças para agüentar isso.
Custa muito? Vai ter que dividir em prestações cegantes se tentar juntar essas duas palavrinhas
em uma frase? Se abaixar a cabeça e falar com sinceridade aquela suave palavra em
agradecimento? Quem sabe A de pesar? Eu antes dizia que valia dizer essas palavras sem
sinceridade, apenas para seguir um modelo determinado de educação da sociedade, mas como
cansei, agora acho que é obrigação. É sim, ok? Não importa o que você diga, o que você ache,
dizer essas simples palavrinhas não são um modelo da sociedade, não são uma obrigação, são um
modo de separar você do resto. De moldá-lo a um tipo de pessoa que vale a pena olhar duas vezes ou não.
Nossa, Ann! Como você está extremista! 
Some por 30 dias e quando volta, engata na ofensa desse modo!Você já foi mais gentil e romântica.
É, já fui mesmo, mas estou com esse assunto engatado aqui, na minha garganta. Buscando maneiras de falar sobre isso sem soar arrogante ou ignorante, mas não há maneira de dizer isso de modo suave e sútil: EU.ODEIO.HUMANOS.SEM.EDUCAÇÃO.RESPEITO.PERSONALIDADE.
Estou mesmo! Estou cansada. Cansada de ser empurrada pelas pessoas e nem um desculpa ouvir.
Cansada de dizer ‘bom dia’ e as pessoas me olharem como se eu fosse um membro do planeta
Vulcano. Ah, estou farta de dizer ‘de nada’ quando deveria ouvir um ‘obrigada’.
Não. Sou. Obrigada.
Ann, você precisa entender que as pessoas têm dias ruins e isso afeta em seus comportamentos.
O caramba que afeta!
Eu tenho listas e listas de dias porcarias, e nunca – repito sem medo de ser contrariada nos
comentários – deixei de ser educada com ninguém, seja conhecido ou estranho.
Pode ter certeza, meu dia ficará 185% se eu for mal educada com alguém, pois não é do meu
feitio ser assim. Acredite. Não estou exagerando, até nós meus piores dias eu sei sorrir mesmo
querendo chorar ou ser gentil com alguém que quero socar até mudar de nacionalidade.
Talvez, tenha sido um pouco rude, mas tendo um dia ruim, é difícil sorrir 99% do tempo
roboticamente. Mas perder a minha educação? Nunca. Olha, eu estou tendo um dia porcaria hoje,
mas disse bom dia a todos os meus conhecidos, pedi licença no Starbucks para pegar um muffin,
agradeci o jornaleiro pelos jornais e cigarros, e ainda dei umas moedinhas para um rapaz que
tocava violino lá no metrô. Nada disso por obrigação social, mas por obrigação de caráter. Eu sou assim, e se eu não fizer uma dessas atitudes, o meu mundo não vai girar corretamente.
Viu? Não é desculpa, eu lhe garanto meu dia porcaria tem uma lista
enorme de motivos. Sim, tem nome, sobrenome e endereço móvel. Sim, estou falando dele. É,
ele. O cara. Aquele que move meu coração. Aquele idiota patético girafa com aquela roupa
engomadinha e cabelos a la Elvis. Odeio odeio odeio, aquele imbecil.

Ok, acho que me contradisse.
Os homens dizem que nós somos complicadas de ser compreendidas, tem até uma foto patética
na Internet que mostra um livro de como nos compreender, especialmente para homens, mas
adivinha, ele está em branco. Rá rá rá. Hilário. NOTÍCIA ESPETACULAR, BABACAS: vocês também são
difíceis para caramba de serem entendidos.

Ok.
Confesso.
Hoje estou um pouco azeda.
Mudei o assunto na agilidade que Jesus mudou a água para o vinho.
Sobre não ter educação comecei a falar dele.
Não de Jesus.
Do cara
Talvez tudo esteja interligado.
Minha incapacidade de aceitar a má educação dos outros, no fundo, é a minha incompetência em aceitar que as pessoas são -sempre - opostas as minhas expectativas. 

O ponto é que eu sou uma pessoa prática. 
Direta. Correta. Justa. Educada. Sensata. Humana.
que gosta de pontos finais.
Mas adoro começos. 
Será que é difícil encontrar um espaço no mundo sendo
assim tão torta e fora de quadro? Será que talvez eu seja o error 404? Eu que deveria me encaixar nas expectativas
moldadas pela nossa sociedade e não o contrário? Não essas expectativas as quais eu acredito serem fundamentais e sim, as que
repúdio? 
Talvez, esse seja meu erro. Talvez, eu devesse pensar um pouquinho mais em mim, e
assim, esse mundo ao qual eu não me sinto parte, pudesse se tornar compreensível aos meus
olhos. Eu deveria tentar um dia sair e passar pelos meus vizinhos sem cumprimentar, nem sequer
olhar na farinha fofo daquele recém nascido do casal do fim da rua, muito menos brincar com o
cachorro daquela senhora de lenço nos cabelos do outro lado da rua. Pedir licença para pegar
muffin no Starbucks? Nunca mais. Sairia esbarrando em todo mundo na cara dura. Estou muito
ocupada com os meus problemas, pensamentos e minha vida importante para se lembrar que divido o espaço da terra com outros humanos.Agradecer o jornaleiro? Nananinanão! Muito menos dar umas moedinhas ao menino com violino. Não tenho tempo para ouvir música clássica. 
Tempo é precioso. 
Cada segundo é precioso.
E não posso desperdiçá-lo com qualquer coisa, mas posso desperdiçá-lo, pensando como vou gastá-lo de um modo produtivo e sem perder tempo. Perdendo tempo.
Tem algo de errado nisso.
Será que só eu vejo isso? 
Será que há outros, como eu?

SOBRE A AUTORA: Bárbara Herdy, 23 anos. Estudante de letras, escritora e é casada com o Dylan O'Bryen, mesmo que ele não saiba disso. Também dona do blog Segredo Entre Amigas.

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