SOBRE(VIVER): Capítulo 2


01 de dezembro de 2011

Já se aproximava da meia noite e fui ligar para o Victor, ele já tinha deixado algumas mensagens – o que resultaria em mais uma briga pela abstinência de respostas. Não foi muito diferente o que falamos naquela ligação mas estávamos terminando com mais frequência e voltando com a mesma velocidade.
- Desculpa, eu tive um dia cheio e estou farta dessas brigas. - Ele disse.
- Eu também. - Respondi respirando bem fundo. - Não estou mais aguentando esse vai-e-volta.
- Nem eu. Vamos dar uma pausa?
- Vamos.
- Você consegue lembrar de alguma coisa boa?
- No momento não.
- Ah que pena, pois eu tenho lembranças boas. - Disse, tentando melhorar a situação.
- Então me conta. – Ele disse com uma voz manhosa, era legal estar em paz com ele e ouvi-lo mesmo depois de uma quase interminável briga.
- Já te contei que uma vez quando estava no Rio e estávamos sem nos falar, você me mandou uma mensagem que me fez pensar em você antes de você se declarar?
- Sério?
- Sim. Você me disse depois que naquela época você não conseguia parar de pensar em mim e que se não fosse pela Diana e o tal conselho dela, acho que hoje talvez a gente nem estivesse se falando.
- O que eu mandei naquela mensagem? - ele perguntou intrigado.
- Algo do tipo: sinto sua falta sua ciumenta.
Ele riu e era como se toda a guerra tivesse acabado naquela risada.

07 de novembro de 2010

Estava de saco cheio do Gustavo. Ele era um idiota total. Me perguntava porque ainda continuava fingindo que gostava dele. A minha sorte era que eu já estava indo embora do Rio de Janeiro e não teria que ficar me preocupando mais com ele e nem estar mais na casa dele – já que estar ali e com ele era apenas um favor. Precisava anotar em todo lugar que assim que chegasse em Imperatriz eu terminaria esse quase namoro com ele. Aliás, eu já não estava namorando ele. Mas tinha que me livrar dele e dar um jeito de acabar com o Maurício também assim que chegasse. Estava cansada desses caras idiotas. Aliás porque uma mulher precisa estar acompanhada e esnobar as amigas dizendo que você tem e elas não? Af. Pelo menos já consegui provar pra mim que não vale a pena ser submissa a um cara. Consegui provar também que dá pra pegar mais de um cara de uma vez só e sem eles perceberem. Mesmo sendo melhores amigos. Que tipo de pessoa eu sou? Ah esquece. Preciso lembrar de não namorar mais ninguém ou de ficar com alguém. Pode aparecer o sapo que for, não quero mais beijar ninguém. É meu penúltimo ano no ensino médio e apesar de conseguir ter aproveitado bastante e feito mais amizades reais, próximo ano começará a tortura dos vestibulares. Só abro a exceção pro Nick Jonas, que aliás estava incrível essa noite. É uma pena eu não ter conseguido ir ao show, mas amanhã volto de novo a realidade. Dar adeus a essa cidade maravilhosa mais uma vez. Me perdi nos meus pensamentos até escutar a porta bater. Era a Amber.
- Já arrumou as malas Amelia? – ela perguntou.
- Estou terminando. Você pode ver quem mandou a mensagem ai pra mim? Meu celular está na tomada e aproveita liga pro papai dizendo que horas sairemos amanhã. - falei, enquanto procurava se não tinha mais nenhuma roupa jogada pelo quarto.
- Foi um tal de Victor. - ela respondeu enquanto continuava mexendo no meu velho celular da Samsung.
- O que ele mandou?
- Ele diz que você sumiu, que está com saudades de conversar com você e que você é a eterna ciumenta dele.
- Ah sério? Que fofo da parte dele, como se ele não falasse isso pra todas. - respondi ironicamente - O Maurício ligou?
- Ligou. Mais alguma coisa? Vou ligar no papai.
- Não. O Gustavo ainda está na sala?
- Está sim.
- Ok, avisa ele que eu já irei sair.
Suspirei fundo e coloquei as últimas peças de roupa dentro da mala. Olhei pela janela, aquela vista linda do Cristo Redentor iluminado ambientava a paisagem. O céu estava claro mas não continha nenhuma estrela. O legal de estar na zona sul era poder dá de cara com o Cristo sempre nos olhando e nos protegendo. Apesar de estar irritada com o Gustavo que passou quase quatro meses sem me ver e dizer que estava com saudade. Não tinha quase me dado atenção durante a minha estadia e preferia ir jogar bola com os amigos do que me acompanhar nos pontos turísticos. Não era a minha primeira vez no Rio, já era a quinta vez e mesmo assim, não tinha como não me apaixonar e descobrir coisas novas. Eu devia ter ficado na casa da Roanna ou da Letícia, mas preferi ficar ali pra forjar o tal namoro que na verdade não tinha se desenrolado desde julho. Estávamos num namoro a distância que praticamente nos falávamos uma vez por mês e ninguém estava nem ai um pro outro. Então não contarei isso como namoro. Ele era só um lance no qual eu dizia que estava junto pra dizer que não estava solteira. Assim como todos os outros.
Olhei para o meu celular e li cada palavra que o Victor tinha digitado. Ironia ele dizer que sente a minha falta depois de todo esse tempo, pensei em responder. Contudo, hesitei. Já estava tarde e precisava ir dar boa noite ao Gustavo. Aquela iria ser a última vez que eu iria vê-lo, pelo menos era o que eu pensava.

13 de Julho de 2010

As melhores férias da minha vida estavam prestes a acontecer. Faltava arrumar uns detalhes aqui, outros acolá. Finalmente, eu poderia ir viajar pra Disney. Estava tão animada de poder realizar mais um sonho. Mandei mensagem pro Victor e brinquei sobre o porquê de ele não morar no Rio de Janeiro, pois só assim poderia conhecer ele entre um desembarque e outro. Ele disse que nunca se atreveria a morar naquela cidade ou até mesmo no estado. Tinha pavor daquele lugar e ainda se atreveu a dizer que quem morava ali só era favelado ou bandido. Retruquei dizendo que ele era doido por não amar uma cidade tão incrível como aquela, melhor do que a poluída São Paulo que não dava nem pra respirar direito. É claro que ele ficou emburrado, mas logo estava me contando que também estava ansioso pra viajar com o pai dele pois ele iria passar as férias na Argentina e logo ia fazer um tour pelo centro-oeste. Me desejou boa viagem e mandou eu aproveitar o único parque que prestava na opinião dele, que era o da Universal Studios pois o Mundo Mágico de Harry Potter tinha acabado de estrear por lá e ele era fã tanto quanto eu. Combinamos que apesar das viagens e do pouco tempo que nos restassem, iríamos nos comunicar quando pudéssemos. E caso estivéssemos off, bastaria um tweet.
Já passava da meia-noite quando paramos com as mensagens. Em poucas horas, cada um seguiria o seu rumo e nem imaginávamos o quanto aquelas férias fariam sentido nas nossas vidas. Não conseguia dormir, apesar de saber que passaria mais de um dia fazendo escala em um lugar e outro até chegar no meu destino final. Mas eu mal poderia esperar.

19 de junho de 2010

Victor Takehisa te enviou uma nova mensagem.
“Eu não consigo mais ter simulados dias de sábado. São horríveis.”
“A minha sorte é que a minha escola não permite isso por ser uma escola cristã. Morra de inveja.”
“Inveja mesmo! Você é uma guria de sorte. Já está na casa do seu pai?”
“Já sim. Conheci uma nova menina aqui, estamos sendo companheiras de dividir a cama pelo sono acumulado durante a estrada. Ela é irmã de uma amiga do meu pai.”
“Dividindo a cama? HAHAHA, mas e a sua madrasta está ai?”
“Está a outra. A que trabalha na loja com ele. É difícil ficar nessa tendo duas madrastas.”
“Eu te entendo. Imagine a ir a dois casamentos.”
“Nossos pais são pegadores ein? Daqui um mês vou viajar e ainda não sei se vou ter que trazer presente pras duas. Imagina como vai ser!”
“Relaxa com isso.”
“Ok.”
“Bem, vou ter que parar de falar agora. Preciso almoçar e ir me arrumar pra ir pro cinema.”
“Mas outra garota?”
“É.”
“Ah, vê se para quieto com uma.”
“Não dá. Abuso fácil.”
“Ainda bem que eu não moro perto de você.”
“Engraçadinha.”
“Olha é um recorde, faz uma semana que eu te conheço e você não me pegou.”
“Parou tá?”

27 de julho de 2010

Aqueles fogos mágicos do Magic Kingdom, sempre eram a última apresentação da noite e era a atração que o público mais esperava. As luzes, os fogos, os personagens e as pessoas que o estavam assistindo era o grande espetáculo. Era o meu penúltimo dia naquele lugar mágico, porém eu não fazia parte do verdadeiro cenário – estava há quilômetros dali na varanda do meu quarto com o Gustavo assistindo de longe toda aquela cena e não querendo sair daquele lugar. Aquela viagem tinha sido maravilhosa pra mim. Minhas colegas de quarto terminavam de arrumar suas malas e tentando evitar o máximo de peso pra não ter que pagar o excesso de bagagem. Eu só queria aproveitar aqueles últimos instantes com o meu parceiro de viagem. Muita gente acreditava que por andarmos muito juntos e por ele ter beijado uma canadense no meio de uma fila e há poucos dias eu ter beijado um alemão em frente ao castelo da Cinderela, éramos o casal de pegadores. O que era uma ironia quando só eramos amigos e nada acontecia. Porém, tudo mudou quando ele pegou minha mão e disse que nunca tinha passado tanto tempo com uma garota de verdade. Ele me puxou pra perto e começou a me beijar. Disse que gostava muito de mim e que não queria que aquilo acabasse. Foi quando ele me perguntou:
- Namora comigo?
- Você tá louco né Gustavo? - eu retruquei.
- Não, to falando sério. Todo mundo já tá dizendo que a gente já namora, que somos um casal. Porque não?
- Porque eu moro longe de você e provavelmente nunca mais iremos nos ver.
- Mas você disse que ia no Rio logo.
- Eu disse, mas não depende só de mim. Eu quero ir morar lá pra estudar na UFRJ, mas ainda falta tempo.
- Pois pelo menos fica comigo essa noite.
- Eu fico com você. Dorme essa noite no meu quarto. Mas apenas isso.
- As meninas não vão falar nada?
- Acho que não. Hoje é o meu dia de dormir na cama sozinha, tem espaço e a gente só vai deitar. Não vai acontecer nada demais.
- Tá bom.
Entramos no quarto e as minhas colegas de quarto já estavam dormindo. O quarto estava uma bagunça ainda, porém não estava pior que os outros dias. A maioria dos quartos dos Estados Unidos já vem com duas camas de casais, não é como aqui no Brasil que você pode escolher que quarto ficar. Tínhamos uma varanda que dava de vista pra piscina e que de longe podíamos ver os fogos dos parques sendo soltados. O quarto era grande pra três pessoas dormirem, cada uma tinha seu closet e o banheiro era incrível e abastecido de uma banheira que eu não queria largar. Tinha uma pequena parte que dava a impressão de ser um loft pois tinha uma cozinha. Tirei as malas que estavam na cama e coloquei-as do lado para que pudessem ter espaço para o Gustavo deitar ao meu lado. Já debaixo das cobertas, apertando-me junto ao seu corpo ele sussurra no meu ouvido novamente a pergunta se eu queria namorá-lo. Tive que dizer sim. Apesar que aquela seria a única noite que eu poderia estar com ele.

09 de novembro de 2010

- Como foi o show? – A Vicky me perguntou enquanto o professor anotava alguma coisa no quadro cujo eu não estava prestando atenção.
- Ah foi legal. - eu menti. - Adivinha quem está com o pôster que arrancamos do seu caderno? - Pelo menos essa era uma parte sincera.
- Eu não consigo acreditar. - Ela estampava um sorriso no rosto de uma felicidade sem igual. Nunca vi ela tão feliz. Mas a questão era, antes de ir pro Rio, arrancamos o pôster dos Jonas que veio no caderno dela e em como todos os shows os fãs levam cartazes, pôsteres, fazem blusas, eu levei isso.
- Pois é. Eu fui pra porta do hotel no domingo pela manhã e dai conheci algumas garotas. Enquanto estávamos correndo de um lado pro outro, descobrimos que a Globo estaria lá para filmar com eles pra ir ao ar no Casseta e Planeta. Na hora tive a ideia de autografar o pôster com todos os twitters das meninas, inclusive o seu e entregamos pro pessoal entregar pra eles. Eles disseram que entregaram, mas ainda estou esperando o meu tweet.
- Ainda estou sem palavras pra isso. Eu amo você.
- Ah você sabe que eu te amo mais, mas o que eu perdi de aula nesses dias?
O sinal tocou para o intervalo antes que ela pudesse falar alguma coisa. Ainda estava sem reação, então simplesmente a abracei. Me senti um pouco mal por não ter falado a verdade e dizer que não fui ao show, mas pelo menos uma parte de mim acreditava que tinha feito a minha parte ao entregar aquele pôster a pessoas influentes. Saímos da sala e seguimos para o banheiro do último andar, nosso lugar favorito e meu esconderijo. Disse a ela que não queria mais nenhum garoto e passei a lista de contatos dos caras para ela que ela precisava mandar a mensagem sobre eu não estar mais interessada ou não querer mais sair. Inclusive, o Gustavo. Mas só um eu não poderia fazer isso, precisava ligar. O Maurício. Portanto, peguei o celular do bolso e diquei o número dele.
- Oi Maurício. - disse em seco.
- Oi Poodle. - disse ele sorrindo como sempre fazia.
- Já te disse que eu odeio você me chamando desse jeito? - eu já estava irritada com esse apelido que ele sempre ousava em me chamar por causa da cachorra dele.
- Ah desculpa.
- Olha, eu preciso conversar com você.
- Sobre o que é?
- É... Não dá mais pra gente ficar. Ou sair.
- Eu também ia te dizer isso.
- Ah é? – Me surpreendi com aquela frase.
- É.
- Nossa, porque?
- Porque eu te trai. Você não quis me dar o que eu quero. Então eu te trai. To pegando várias mulheres. To nem ai pra você.
- Eu também te trai idiota, esse tempo todo eu só estava provando uma teoria. Eu nunca gostei de você.
Ele desligou o telefone num acesso de raiva. Não senti nenhum remorso. Nem mesmo por ele ter me dito isso. A verdade era que ele não tinha pegado ninguém e só falou isso porque eu estava dizendo que não queria mais ter nada com ele. Muitos dos meninos do qual a Vicky mandou mensagem, vieram querer que eu ficasse com eles. Mas eu estava firme com a minha decisão. O engraçado é que o Gustavo não correu atrás. Não naquela hora. Menos mal. Só que naquele instante, o Victor me veio a cabeça. A mensagem dele. Ele também me fazia falta, mas já fazia muito tempo que não nos falávamos e se eu respondesse, continuaria sendo apenas mais uma. Mesmo eu não sabendo, ele também estava pensando em mim naquele dia.

01 de dezembro de 2011

Não acreditava que já é dia 1 novamente. Mas acordei sem nenhuma mensagem. Isso me deixou meio triste, mas após a briga de ontem não sei porque esperei ter recebido alguma ou pelo menos uma ligação. Entrei no meu Facebook e tentei ver o perfil dele, mas ainda continuava bloqueado pra mim. Não sei porque ele ainda insistia nisso. Ele disse que era pra evitar as brigas e cada um ter seu espaço, mas continuávamos brigando. A verdade, era que eu queria procurá-lo. Comecei a escrever uma mensagem de texto mas a salvei nos rascunhos. Digitei o número dele na tela e até pensei em mandar de novo um pedido de solicitação para ser amiga dele no Facebook, mais uma vez. Porém, deixei pra lá. Lembrei das palavras que ele me chamou na última noite. Vadia. Imagina, ser chamada de vadia pelo amor da sua vida. O meu orgulho foi maior que todo o meu desejo ou saudade. Pensei comigo que se ele estava me dando aquele gelo, eu também poderia o retribuir.
Coloquei os fones de ouvido e apertei o play na música que mais tinha escutado nos últimos dias, Back to December da Taylor Swift. As histórias não eram parecidas, mas em algumas partes da letra, me fazia chorar, porque tudo o que eu fazia era reviver o passado e me sobrecarregava com culpa por não saber onde tudo aquilo tinha começado. Onde o nós ali não existia mais e sim duas pessoas individuais que estavam juntas somente por um triz. Há sempre uma razão embora não haja uma explicação, repeti.
Comecei a pensar no Joseph. Em como mesmo querendo, eu não poderia entregar o meu coração a ele, cujo conseguiu me arrancar sorrisos nesse período sombrio. A minha alma e coração ainda pertenciam ao Victor, infelizmente. Queria apenas não sentir nada e ter a chance de ser feliz com outra pessoa. De sair desse amor doentio e me forçar a estar feliz. Mas eu estava muito machucada. É claro que eu odiava o fato de estar me apaixonando, só que eu preferia que fosse o Victor que tivesse me fazendo sorrir. Dizendo que me ama, que queria estar comigo. Mas o ciúmes dele o deixou possessivo. O deixou um cara diferente que nem eu mais conhecia, aliás nem eu me conhecia.
“Your sweet smile, so good to me, so right”, a Taylor cantava e aquilo me fazia chorar, porque aquele sorriso era o que eu mais precisava naquele momento. Enxuguei as lágrimas e disse pra mim mesma mais uma vez que não iria ligar. Aquele seria o meu último dia de aula e nada o estragaria.

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