Sobre(viver): Capítulo 11
11 de novembro de 2011
Antes de você sonhar, deve acreditar, porque é assim que sonhos se tornam realidade. E eu tinha sonhado mais uma vez com o Victor. E era um sonho maravilhoso.
- O que aconteceu? - foi a primeira pergunta que o Victor me fez quando eu atendi o telefone.
- Desculpa, eu precisava de um tempo pra pensar. Eu não aguentei e fiquei presa no passado. Remoendo todas as feridas.
- Porque ein? - retrucou com uma voz triste.
- Porque parece que nós estamos estagnados, que esquecemos de seguir em frente.
- Hmm.
- Me diz agora que você me ama mais do que amava antes. – mordi os lábios com medo do eu ouviria
- Eu amo.
- Você tem certeza?
- Tenho.
- Obrigada, era o que eu precisava ouvir. - respondi aliviada.
- Mas ainda não compreendo porque você quis brigar mesmo quando tudo estava bem.
- Desculpa, é que eu não conseguia acreditar. E eu não briguei, eu só te evitei.
- Eu queria que você estivesse aqui para caso você dissesse que não acreditasse, apenas olhasse nos meus olhos porque eles nunca mentem. Nem meu coração. Tudo o que eu te disse foi sincero, Louise.
- Desculpa. – retruquei com um aperto no coração. - Não é horrível essa sensação de querer estar perto e ter que morar no lado contrário do país?
- É sim.
- Parece que a cada batimento do meu coração, é clamando por saudade, pedindo pra você está aqui. Eu fui estúpida esses dias. Eu sinto muito mesmo, eu queria poder confiar. Eu confio. Foi apenas um momento estúpido como eu disse, eu fui estúpida. Eu estava com raiva. Muita raiva mesmo. Mas eu não queria acabar demonstrando. Eu queria guardar para mim e ficar tudo na boa. Mas eu não consegui.
- Confiança é a base de tudo, não era isso que você me dizia?
- Você me perdoa?
- Perdoo. Mas não fica por muito tempo sem falar comigo mais? Hoje minha professora estava falando uma frase que me fez pensar em você, já que sempre me perdoou por todas as coisas.
- Qual foi?
- Se quiser ser feliz por um momento, vingue-se, mas se quiser ser feliz a vida toda, perdoe.
- Que frase bonita.
- Por isso eu e você estamos numa boa ok?
- Ok.
- Nada mais de choro, brigas ou da senhorita evitar minhas ligações.
- Pode deixar, chefe.
- Começou com as gracinhas né? To até ouvindo um riso ai por trás da ligação. - E a verdade é que eu estava rindo sim. Muito. É quando você menos espera que as coisas boas acontecem. O Victor não tinha desistido de mim, mesmo quando eu não atendi ou retornei suas ligações. Aquilo me lembrava o menino que eu amava. E lá estava eu voltando ao tempo outra vez.
1 de março de 2011
- Mãe, o Victor já está me esperando na rodoviária. - gritei pra minha mãe pra ver se ela apressava os passos enquanto ela olhava algumas coisas na loja.
- Deixa ele esperar mais um pouquinho. Eu preciso ainda ver algumas coisas aqui na rua.
- Mãe, por favor. A senhora já viu tudo. Só tá fazendo isso pra me irritar. – já estava emburrada pois aquele era o meu último dia em Campinas e com o Victor. Sem contar que aquele seria o nosso primeiro aniversário de namoro juntos apesar de ser nosso terceiro mês de namoro. Já passava das duas e o ônibus sairia as 15:30, o que me restava pouco tempo com ele. Era triste ter mal chegado e já ter que ir embora. Olhei de novo pra minha mãe e ela continuava a ver as roupas da loja que acabaria nem levando nada dali. – To indo mãe, a rodoviária é um pulo daqui. Te encontro lá.
- Não vai, é uma ordem. – Mas eu já tinha saído correndo de lá. Era uns 10 minutos do calçadão largo cheio de lojas que nos cercava até a rodoviária. O Victor já tinha saído do cursinho que ficava em São José dos Campos, há uma hora dali e tinha ido direto pra rodoviária pra ter um tempinho comigo. Tinha convencido o pai a leva-lo de carro pra ser mais rápido e minha mãe estava abusando da paciência só por não ter ido de cara com o pai do Victor.
Corri o máximo que eu pude pois o Victor estava impaciente e tinha ameaçado voltar pra casa porque ainda não tinha almoçado e não sabia mais o que dizer pro pai sobre a minha demora pois eles estavam desde 13:30 ali. Quando subi as escadas que davam acesso a sala de espera, olhei-o sentado na cafeteria no mesmo banco que tínhamos ficado no dia anterior. Tentei o surpreender chegando discretamente mas ele logo me avistou e deu um sorriso. Usava uma calça jeans e uma camisa gola v branca com um casaco listrado por trás. Tentei arrumar minha franja que já estava toda suada pelo calor da correria, mas em vão. Ele andou em minha direção e falou:
- Você está linda.
- Que mentira. – disse, olhando rapidamente para minha calça jeans e a minha blusa branca com detalhes na manga esverdeados da Ecko que tinha trago dos Estados Unidos. Me deparei assim que estávamos combinando, exceto pela falta do casaco e os tênis que o dele era um da Adidas e o meu All Star. – Somos iguais até no look.
Ele me puxou pra perto e me deu um beijo demorado.
- Vou sentir falta disso. – continuou e me conduzindo até o banco acolchoado que estava sentado. Colocou seus braços em torno de mim e me abraçou forte. Beijando a minha nuca e me deixando ligeiramente com a sensação de que ninguém ali estava presente assistindo a cena.
- Feliz 3 meses, espero que eu possa passar todos os meses assim ao teu lado. Cansei da distância.
- Eu também, nem acredito que você já está indo embora. – fitou-me com os seus olhos penetrantes, apertando-me ainda mais forte e começando a locomover suas mãos pra debaixo dos meus seios.
- Epa. O que você está fazendo?
- Desculpa, foi sem querer.
- É melhor parar mesmo. Tá pensando que é o que?
- Eu nem percebi. – ele disse, voltando assim a só me apertar e entre um aperto e outro, me beijava. Foram tantos beijos que só percebemos que já estava na hora de eu partir, quando fomos interrompidos pela minha mãe que se encontrava em pé ao nosso lado.
- Vamos? – minha mãe disse.
- Já? – disse olhando pra ele em desespero.
- Eu te levo até o portão. – ele disse.
Começamos a andar em direção ao portão, só que a funcionária da empresa disse que ele não poderia ir comigo já que o embarque e desembarque acontecia na parte de baixo da rodoviária. Ele insistiu até que ela deixou, já era a última passageira quando apresentei meu bilhete de passagem ao cobrador. Ele segurou a minha mão tão forte como se não quisesse me deixar escapar e eu disse:
- Me promete algo?
- O que você quiser.
- Nunca mais deixe eu ir.
- É claro que não. – já chorando ao me olhar.
- Me promete outra coisa?
- Vai me ver.
- Assim que eu tiver 18 anos eu vou te visitar.
- Você promete mesmo? – enquanto as lágrimas corriam ao meu redor.
- Eu prometo. Eu te amo, Louise.
- Eu te amo, Victor. – e o beijei com toda a minha força. Mesmo com todas as lágrimas que nos cercavam. O motorista já buzinava pra eu entrar no ônibus e eu não conseguia soltá-lo. Ao subir os degraus e o avistar pela janela embaçada já com o meu choro, via ele não conseguir virar as costas para mim e chorar o tanto como eu. Eu estava indo embora, pra longe do amor da minha vida e eu não queria ir. Minha mãe tentava me acalmar e eu não conseguia encará-la. Ela dizia: “vocês ainda são jovens, tem todo o tempo do mundo”. Por mais que fosse errado dizer que nós não tínhamos. Que não queríamos ter que esperar de novo. Que eu estava cansada de ouvir comentários como namorar a distância foi escolha sua, aprenda a viver com a consequência. Eu precisava dele comigo. Agora, a qualquer instante, sempre. Não queria ter todo o tempo do mundo no depois, queria ali. Isso era o certo pra mim. Peguei o celular e ainda tinha sinal, era o legal de viajar nas estradas do estado de São Paulo. As torres sempre funcionavam. Ele já tinha sido mais rápido em enviar a mensagem. “Posso falar sem sombra de dúvidas Louise: você é tudo o que eu sempre quis, tudo o que eu quero, tudo o que eu sempre vou querer. Amo você minha noiva <3”. “o amor é paciente, é bondoso; não é invejoso, nem arrogante, o amor tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Serão os meus votos quando subir no altar com você. Eu te amo meu noivo. Foram os melhores dias da minha vida.”
18 de novembro de 2011
- Você é louca ou o que? – a Barbara me perguntou como se fosse me bater ou algo do tipo.
- Você não precisa me condenar por isso. Aliás você mesmo disse que eu era pensar em tudo o que estava acontecendo. E me perguntei: porque não continuar?
- Ah claro que não. Você é pior do que aquelas mulheres que apanham do marido e não fala nada pra ninguém ou denuncia. Você parece que gosta de apanhar igual elas. – ela disse já quase levantando a mão pra me dar um tapa. Tinha acabado de contar pra ela que eu tinha voltado com o Victor mas que já estávamos brigados de novo. É claro que eu não era igual a uma mulher daquelas. O Victor, não estava me batendo ou nada. Tínhamos brigado e dai? Já era comum aquela altura.
- Não sou.
- É sim e enquanto você não terminar com ele de vez, eu não falarei mais com você.
- O que? - respondi surpresa pela ameaça. – Estou falando sério e começarei agora. - Ela se virou e saiu sem olhar para trás. Ela estava falando sério. Comecei a olhar os corredores amultuados de gente por conta do horário do intervalo. Corri em direção ao banheiro feminino no terceiro andar. Me desviava da multidão sem os encarar pra não ter que ouvir as perguntas de porque eu estava chorando. Não conseguia acreditar ainda que a Barbara estava me abandonando. Se até os amigos que eu pensei que tinha estavam me "dando um fora", quem diria o Victor. Mas eu precisava lidar com aquilo. Eu não estava tão sozinha. Ao me deparar com o espelho fixado na parede traseira, fingi um sorriso. Encarei e pensei. Eu ainda tinha o grupo da Nina. Ainda tinha a Talita e ela nunca me deixava na mão. Dava pra aguentar essa ameaça da Barbara.
11 de novembro de 2011
Fechei as minhas apostilas e estava terminando de arrumar minha mochila, quando a Brenda surgiu por trás de mim e me questionou se tudo estava bem. Menti dizendo que sim e ela me deu seu olhar fulminante de que já conhecia quando eu mentia. Ela me perguntou o porquê dos meus olhos inchados e eu comecei a dizer pra ela tudo o que estava acontecendo, inclusive que tinha pensado em tirar a minha própria vida pra acabar com aquela dor. Ela me olhou assustada e disse: a parte boa é que mesmo se você desistir, Deus continuará insistindo. Acho que era por isso que ainda me encontrava viva ali. Acho que senti alguma coisa enquanto acendia aquele fósforo e inalava a fumaça. Meu celular começou a tocar e deixei fluir o toque. Ela me perguntou se era ele e eu assenti. Não estava afim de atender. Ela questionou-me se eu ainda escrevia e eu disse que não, que fazia um tempo. Ela me incentivou a pegar uma folha de caderno e aproveitar que voltaria pra casa de ônibus naquele dia para escrever. Segui o conselho dela e ao estar acomodada no ônibus fingi que escreveria uma carta ao Victor afim de enviá-la.
Comecei:
"Querido Victor, se você me pedisse eu ficaria. Mas isso nunca vai acontecer. Você só deve estar fazendo um papel qualquer de vítima nessa história por eu não estar atendendo suas ligações, mas você nem ousou em mandar mensagens. Porque? Porque você simplesmente parou de me enviar mensagens por não gostar de digitar. Olha que legal. E quando estamos nos falando por telefone? Ah espera, tenho resposta pra essa também. Parece que Deus não gosta da gente né porque sempre não falo com você por mais de uma hora ou sei lá. Sempre tem um sinal que não funciona ou uma bateria que está descarregada. E sobre vim me visitar? Ah espera aí, você ia vim na semana do saco cheio mas o que você fez? Foi pro Paraná, fazer vestibular e ver sua amiguinha. Simplesmente porque vim ao Maranhão está fora de cogitação. Até quando eu precisarei te esperar? Ah, espera aí. Acabou. Eu dei fim nisso. Mas quem sabe ano que vem, quando suas provas estiverem encerradas, você venha curtir uma semana aqui. Iupiiiiiii, vou estar te esperando de braços abertos. Vou tentar esticar ao máximo pra te dizer o quanto aquilo não é o tamanho suficiente da minha estupidez em querer acreditar nas suas palavras falsas. Você quer me ligar pra que mesmo? Dizer que sente minha falta ou pra brigar porque agora você tá sendo o trouxa? Estamos há mais de um mês nessa montanha-russa e eu estou me divertindo sem você. Queria que visse o tamanho da minha alegria. Estou ocupada e olha, não é nem com você. Não é isso que você me diz sempre: que está ocupado? Mas se você pedisse realmente pra eu ficar com você, eu ficaria. Faria tudo. Eu volto, porque eu te amo."
Comecei a chorar loucamente, eu sentia falta dele. Depois que coloquei todos os meus sentimentos a postos, eu percebi que eu tinha errado. E decidi atender da próxima vez que ele ligasse. Não fazia sentido nenhum, odiar quem a gente ama. Ás vezes, nosso coração é quebrado ou quebramos o coração de alguém involuntariamente. Mas só porque o meu estava assim, não significaria que eu precisava fazer o mesmo. Eu não era assim.
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