sobre(viver): capitulo 8
02 de novembro de 2011
Coloquei no volume mais alto que poderia tocar. Apertei o
play e o cd que estava no iTunes era o de Sandy e Junior. A Sandy entoava “às vezes
me pergunto se eu viverei sem ter você, se saberei te esquecer". Aquilo me
perfurava. A verdade é que parecia não ter mais espaço dentro de mim que
suportasse toda dor. Estava cansado de demonstrar os falsos sorrisos. Cada vez
que eu demonstrava, era como se eu pedisse pra alguém me socorrer. O que ele
fazia comigo, doía. No celular tinha uma nova mensagem, era dele.
"Desculpa a frieza esses dias. Meu coração está partido e essas brigas
deixam consquências.". Ignorei. Ele tinha me dito na última briga que todo
mundo o fazia feliz, menos eu. Mas depois sempre se arrependia das palavras que
tinha dito. Me questionava o quanto eu tinha mudado. O quanto passei a ser
dependente de alguém que ultimamente não fazia nada comigo além de brigar. A
música continuava a tocar e a voz da Sandy começava a me enojar. Eu precisava
dar um jeito de viver sem ele. De continuar sem ele. Aliás, eu sempre fui
sozinha. Porque justo agora eu tinha me tornado tão submissa? Comecei a me
lembrar o quanto eu me parecia com a Blair, antes do Chuck. Tão forte. Tão
independente e cheia de si. Com seus dramas, mentiras e intrigas que era seu
meio de sobrevivência. Em como todo mundo a tratava como rainha e autoridade.
Eu era assim. Tinha o mundo em minhas mãos. Maquiávelica, era o que eu era.
Possessiva. Sedutora. Mentirosa. Mas com uma doçura, meiguice e ingênuidade.
Mesmo nesses conflitos de personalidades, eu era feliz. Mas encontrei a maldita
merda do amor. Esse sentimento irônico. Abandonei o meu mundo pra vivênciá-lo.
Como pude ser tão burra? Eu já estava decidida. Lembro da Blair largar tudo e o
Chuck só a menosprezar, aparecendo com outra. Fui seduzida por esse sentimento
que todos querem ter. Pra me restar o quê agora? Só marcas de cicatrizes. Me
enganei com quem jurou a dá-lo. Que idiota. Tão normal. Tão comum. Tão
esperado. Guardar boas lembranças pra quê agora? Pra ele jogar na cara depois
as ruins? Ele manda mensagem de novo: "estou aqui deitado na cama e
olhando a janela, procurando você nas cobertas, lembra quando você estava
aqui?". Droga, como esqueceria daquilo? Mas essas noites de paixão ardente
devem também ser deixadas para trás. Nada podia me impedir de seguir em frente.
Minha decisão já estava tomada. O eco das mentiras dele passavam na minha
mente. Ele não poderia me amar, eu tinha plena certeza daquilo. O tão forte se
tornou tão frágil. Ele tenta mais uma vez com uma nova mensagem: "seu
coração vive dentro de mim". Não, eu me recusava a viver dentro dele. Tudo
era mentira. Toda palavra da boca dele era falsa. Ele nem tinha ligado no dia
passado. Tinha dado mais uma das desculpas esfarrapadas. Comecei a observar as
flores na mesa da sala, de longe pareciam verdadeiras mas se olhasse bem, eram
falsas. De plástico. Falsas, pensei. Assim como as palavras dele. Peguei o celular
e digitei: "Você se esqueceu de mim, já não é como antes”. Apaguei. Olhei
de novo as plantas. Fui em direção delas e as peguei para atirar no lixo. Era
ali onde ele deveria estar também.
27 de setembro de 2010
Já se passavam alguns minutos depois das 19h. Estava no táxi
com a Luana rumo a pizzaria, onde comemoraria o meu aniversário de 16 anos.
Na minha cabeça, tocava Now or Never do filme High School Musical 3.”Sixteen,
sixteen, sixteen more minutes get ready, game on! Now or never do”, era agora
ou nunca. A hora perfeita pra um dos meus planos entrarem em ação. Meu Orkut
estava lotado de scraps como “feliz aniversário” ou “aproveite esse novo ano”.
Mas o que mais tinha me chamado atenção na página era o scrap do Gustavo com
o seu “feliz aniverçário” com c cedilha. Ele não tinha ligado e é porque dizia
que era louco por mim. Uma fraude. Mas essa noite meu plano com o Otávio iria
entrar em ação. Eu tinha reunido todos os garotos que estavam a fim de mim ou
com que estava ficando pra festa e eu tinha prometido que ia ficar com cada um,
o que era uma tamanha mentira. Mas, eu precisava começar a terceira parte da
minha vingança em ação. Os tinha mantido por tanto tempo só pra ver quem me
dava presente e os que tivessem me dado presente ruim, no outro dia eu ia
descartar.
Ao entrar no estabelecimento, minhas amigas já tinham
reservado a mesa e se encontravam lá com todo mundo. O lugar era um pouco
grande e a única opção pra fazer festas improvisadas com muita gente. Tinha um
palco acústico, onde não estava sendo usado naquela noite. Ao invés disso, a
música que tocava era da Aly e Aj – Potential Breakup Song, que combinava com o
estúpido do Gustavo que não se encontrava ali. Amém. Já de longe, avistava o
Murilo, o Lucas, o Matheus, Leonardo, Téo, Argentino e outros. Passei a noite
inteira me revezando a ficar de lado de um e outro. Apenas o Matheus percebeu o
que eu estava fazendo e o Murilo queria que eu ficasse só com ele, pra dizer
que eu era a namorada dele. Iludido. Só ficava com ele porque ele pagava as
minhas despesas. No fim da festa, os garçons começaram a tocar uma batida nas
panelas de parabéns e me trouxeram um bolo de chocolate. Aquela noite tinha
sido épica e ao estar de volta a minha casa, ri muito da cara dos trouxas que
acreditavam que tinham alguma chance comigo.
31 de outubro de 2011
- Eu me pergunto tanto se você sabe mesmo o que eu sinto por
ti. Insegurança? Talvez. Mas você está tão mudado. – Já ia dar quase meia-noite
e estávamos discutindo mais uma vez.
- Você também.
- Eu nunca pensei que você chegaria a mentir tanto pra mim
assim. Pra quem dizia que odiava mentira, você se tornou num verdadeiro
mentiroso.
- Desculpa.
- Aonde foi que eu errei com você?
- Eu não sei.
- Eu sempre fui tão sincera com você.
- Você realmente foi? Tem certeza, Louise?
- O tempo todo, até quando não devia. – disse com plena
certeza.
- Deixa de ser fingida. – respondeu com um tom sarcástico.
- A recíproca é a
mesma.
- Quem está sendo
cínico agora?
- Você só quer fugir do assunto e virar ele contra mim. Você
mentiu sobre ter ido ver a Renata. No que mais você mentiu?
- E você?
- Para de jogar a culpa em mim.
- Eu já suportei muito por você, Louise. Você mentia o tempo
todo.
- Não é verdade.
- Mentiras, mentiras e mais mentiras. Você acha que me
engana quando engana a si. – ele me conhecia como ninguém, é claro que ele
ainda não havia esquecido.
- Para Victor. Você está destruindo o nosso amor, quer
dizer... o meu.
- Ele já está destruído querida. – disse calmamente. Mas
estava torcendo para aquela discussão ter sido apenas um sonho ruim. Repetia
pra mim: Louise, é apenas um sonho ruim. Um sonho ruim.
15 de julho de 2011
O meu telefone toca com um número de outro país. Era
engraçado porque a única pessoa que eu conhecia com aquele ddd era a Cornelia,
mas ela nunca me ligava e naquela hora, ela ainda estaria dormindo por causa do
fuso-horário de Los Angeles. Ainda não era meio-dia. Para minha surpresa,
aquele número era de alguém que eu sentia muita falta.
- Alô.
- Oi Louiss. – disse uma voz angelical.
- Iannnnnnn, não acredito que você tá me ligando. – disse
estampando o sorriso mais lindo daquele mês.
- Eu senti a sua falta. Você não entra mais no Messenger,
não entra mais em nenhuma rede social. Não me liga mais ou manda mensagem.
Queria saber o que estava acontecendo.
- Eu também sinto muita a sua falta. Desculpa, é que eu
estou viajando pra casa do meu pai. E sobre as redes sociais, meu namorado tem
ciúmes demais e eu comecei a evitar.
- Que namorado chato o seu.
Mas ao falar com ele outra pessoa também estava ligando. Era
o Victor.
- Falando nele, ele já tá ligando.
- Ah não atende não, to te ligando de longe. To aqui fazendo
intercâmbio e decidi tirar um tempo pra saber de você.
- Ai que fofo Ian, prometo não sumir mais. Mas aqui tá tudo
bem e por ai.
Conversamos um pouco e eu estava muito feliz por tê-lo de
volta na minha vida. O Victor tinha me pedido pra parar a amizade com ele e
cortá-lo quando ele disse que tinha se apaixonado por mim. A vontade do Victor
ao saber disso era matá-lo por isso. Pra não destruir o nosso namoro, concordei
em não ficar de papo com o Ian se ele cortasse a Renata do nosso meio. Ele
assentiu. Quando retornei a ligação para o Victor, ele já estava enfurecido e
já sabia que eu estava com o Ian no telefone, pois ele tinha falado com a
minha madrasta atrás de mim e ela tinha dito com quem eu falava.
- Você não disse que tinha parado de falar com ele? Não
lembra do combinado?
- Desculpa amor, mas eu não podia não atender. Eu nem sabia
que era ele.
- Mas ficou esse tempo todo falando com ele?
- Fiquei.
- Então quer dizer que pra falar comigo você não podia
porque estava com cólica, agora pra atender o seu amigo, tudo bem!?
- Não meu amor, não é assim. Olha, eu nem vou hoje pro
cinema assistir Harry Potter e é porque eu estou com os ingressos aqui. Era pra
você estar aqui pra ir comigo. Comprei a toa.
- Não foge do assunto.
- Desculpa tá? Eu não vou atender mais ele. Vou ser grossa e
desligar na cara dele.
- Melhor assim.
Só que eu não o fiz, não aceitava ser mandada e continuei a
falar com ele porque os amigos a gente não se abandona. Primeiramente, se você
os conhece há mais tempo do que o seu namorado. Mesmo que não tenha sido
pessoalmente. Porque no final eles sempre estarão lá por você.
27 de setembro de 2011
O telefone toca mais uma vez. Era ele. Desliguei. Toca de
novo. O que ele queria ainda? É melhor eu atender. Mas vamos ver se ele vai
ligar mais uma vez. Ele liga. Engulo as lágrimas e falo:
- Oi.
- Oi.
- Desculpa.
- Eu te odeio.
- Eu também me odeio. Mas só estava cansado.
- Você acha que eu também não estou?
- Mas eu fiquei acordado até meia noite pra poder te ligar e
dar parabéns, pra poder conversar com você e você me dispensou.
- Desculpa por isso.
- Eu odeio me esforçar pra ser o melhor e ser perfeito pra
você se ás vezes isso não adianta. Eu te amo Louise, você sempre soube disso.
Mas hoje você passou dos limites.
- Ainda é o meu aniversário sabe? E eu queria muito que você
tivesse aqui. Nada saiu como o planejado.
- Eu sinto muito por isso, você sabe o quanto eu queria
estar contigo. Prometo que assim que terminar essas provas eu vou aí te ver, ou
até mesmo na semana do saco cheio.
- Eu vou ver se consigo ir pra SP de novo, só que pra morar.
Eu fiz a inscrição pra prova do UNASP hoje, mas ainda to triste porque não pude
fazer a da USP. Queria muito poder estudar lá ou no Mackenzie.
- Mas qual será o desejo da aniversariante hoje?
- Hm, um bolo com você saindo de dentro.
- Isso eu ainda não posso te conceder, mas pensa pelo lado
positivo, você ainda terá muitos aniversários ao meu lado.
- Desculpa ter sido chata. Eu só queria esquecer o dia de
hoje.
- Tudo bem, você já quer dormir?
- Eu quero e você também tá com sono, aposto.
- To sim, então vamos dormir e pelo menos não acordaremos
brigados amanhã ou teremos uma noite péssima de sono.
- Ok, beijos meu amor.
- Beijos, te amo e bons sonhos.
Era meia-noite quando escuto o meu celular tocar. Acordei
num susto ao ouvir o toque. Estava com medo da minha mãe ouvir o toque ou de
descobrir que o Victor ainda me liga durante a madrugada e me pegar no escuro
falando com ele tirando assim o meu celular outra vez. Ela continuava na política
de que eu só poderia falar com ele durante meia-hora por dia e que não fosse na
presença dela. E caso eu passasse desse tempo, meu pai a falaria já que ele
estava controlando as minhas ligações pelo plano do celular. Atendi rapidamente
em meio a sussurros:
- Oi, amor.
- Oi aniversariante. Liguei pra te desejar um feliz
aniversário e que o seu presente está guardado aqui comigo.
- Ah amor, obrigada! Você é um fofo sabia?
- Eu só queria retribuir. E ai qual é o desejo da noite?
- Você aqui.
- Vou tentar realizar esse desejo!
- Amor, tem problema se eu desligar o telefone?
- Porque? Sua mãe tá ai?
- Não, mas tenho medo dela acordar e também estou morrendo
de sono. Amanhã tenho aula o dia inteiro lembra?
- Ah, tudo bem. Mas eu imaginei que a gente iria conversar
agora. Você me fez esperar até agora.
- Ai Victor, por favor entenda.
- Ok, boa noite. – disse secamente.
- Boa noite. Obrigada de novo.
Quando cheguei na escola de manhã, apenas a Barbara e o
Paulo me deram parabéns antes do alarme tocar para entrarmos na sala. Minha
mãe me deu um feliz aniversário seco e falou que esse ano era pra ser de pleno
juízo, pois eu já tinha 17 anos. Meu pai ainda não tinha ligado e esperava
também que muita gente nem me desse parabéns por não ter nenhuma rede social
minha pra avisar que aquele dia era o meu aniversário. Já não estava falando
com muita gente naquele período para o bem do meu relacionamento com o Victor e
não festejaria pra poder falar com ele a noite. Só que ao entrarmos na sala, o
professor de física que daria aula nos dois primeiros horários disse que o pai
da Noélia tinha falecido naquela madrugada e que iriamos a casa dela pra
prestarmos nosso luto. Nossa turma, foi a única liberada naquele dia e poderia
ter sido um presente de aniversário incrível por não ter aula. Mas só
significaria que passaria o dia em casa sem ninguém. Apesar de ser muito amiga
dela, acabei indo com a Barbara. Para minha surpresa no caminho, outra pessoa
tinha lembrado de mim naquela manhã. Era o Ian, um dos meus amigos que morava em
outra cidade. Ele tinha se lembrado, já que o nosso aniversário é quase uma
semana de diferença e eu tinha ligado pra ele no dia.
“Louise, happy bday! Que você todos os seus dreams came
true. Que possamos nos conhecer e dançar muito ao som de Party in the USA,
quando tivermos nosso jatinho e viajarmos sempre pra nosso país de nascença!
Você merece um dia wonderful e all good things, garota. Love ya, Iaaaah”
Era uma loucura aquela mensagem pois estava tudo minsturando
entre um portunglês. Mas era fofo da parte dele ter se lembrado. O Victor
deveria já estar no cursinho naquele momento, então o avisei que não teria aula
naquele dia e que ficaria em casa.
“Vou passar o dia em casa hoje, o pai de uma colega da sala
morreu e não vai ter aula.”
“Que pena.”
“É... Alguma chance de você matar a aula da tarde?”
“Não dá, desculpa. É uma professora da USP que vai dar aula
hoje sobre geografia e eu não posso perder.”
“Tudo bem.”
“Mas tenta se divertir.”
“Vou tentar.”
A verdade é que eu passei o dia sem fazer nada de cara pra
cima, não sai pra almoçar, não sai pra jantar. Meu pai só tinha lembrado do meu
aniversário a noite porque eu o lembrei. Ele pediu desculpas pois tinha passado
o dia resolvendo problemas da loja e sempre que ia ligar, alguma coisa tinha
aparecido. A minha paciência já tinha se esgotado e aquele tinha sido o pior
aniversário que eu tive. O Victor mal tinha falado comigo o dia todo e eu já
não tinha mais nada pra assistir. Ele já foi chegar do cursinho depois das 20h
e eu não conseguia esconder a minha raiva por ter sido deixada de lado naquele
dia. Quando o telefone tocou, comecei a descontar tudo nele e ele acabou
terminando comigo.
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