Sobre(viver): Capítulo 13

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30 de novembro de 2011
Ficar conversando com o Joseph me fazia refletir sobre tudo o que o Victor me falava, sobre como tudo aquilo que estava acontecendo tinha me levado até ali. Antigamente, eu falaria que seria por alguma razão maior, mas eu estava tão iludida que não acreditava mais naquilo. Eu já não poderia mais entregar meu coração, mesmo que fosse pra alguém cujo finalmente conseguiu arrancar um sorriso meu depois de tanto tempo sombrio. Minha alma e coração eram pertencentes ao Victor. Infelizmente. Se eu tivesse a chance, eu o teria amado e o amaria. Era engraçado como estar presa a alguém que só me machucava. Era intacto, profundo. O pior, é que eu imaginava que o Victor que estivesse fazendo essas coisas bobas e dizendo que me amava. Não sabia ao certo se era verdadeiro, mas a porta do meu mundo começava a se abrir novamente, quem sabe eu estaria voltando a me apaixonar... afinal, eu estava me apegando a ele.

06 de agosto de 2012
Comecei a olhar aquela multidão que embarcava rumo a estação de Grajaú, ou seja o meu sentido. Apesar de que eram apenas duas paradas até eu conseguir chegar na estação de Santo Amaro onde eu iria fazer baldeação, não queria ter que ser esmagada em plena seis horas com as minhas milhares de sacolas. Não sabia se me arrependia de ter saído do Morumbi Shopping naquele horário ou de ter comprado tanto, mas pelo menos eu estava com os meus ingressos pra Bienal do Livro em mãos.
Olhava as pessoas que embarcavam rumo a Osasco e fiquei com inveja por estar tão vazio os trens que iriam para aquele rumo. Pensei no Joseph, ele deveria estar saindo do trabalho naquele horário e fazia um bom tempo desde que não nos falávamos. Na verdade desde o dia em que eu não consegui ficar com ele por conta que ainda sentia algo pelo Victor.
Coloquei as sacolas no chão e tentei procurar o meu celular dentro da bolsa para ligar no Joseph. Ao discar o número dele, não conseguia acreditar que ele ainda tinha atendido ao primeiro toque.
- Olá Louise. – a voz dele parecia surpresa e ao mesmo tempo feliz. – Quanto tempo ein?
- Oi Joseph, é verdade. – disse timidamente. – Sabe, eu to aqui no Morumbi e pensei em ir até aí te ver, lembrei que você costuma sair do trabalho nesse horário e se você me permitisse, poderíamos nos encontrar na estação que você faz baldeação.
- Depois de tanto te convidar, só hoje você vem me aparecer por aqui?
- Posso ir?
- Mas é claro, só que você precisa desembarcar na Presidente Altino. Assim que você chegar me dá um toque.
- Ok. Pois até daqui a pouco.
- Até.
Desliguei o telefone e tentei me olhar pela câmera do celular pra ver como eu estava. Minha cara estava ok. Por conta do clima, já tinha saído protegida com um casaco, então não iria passar frio caso voltasse um pouco tarde. Comecei a andar até o lado vazio da estação e para a minha sorte, já avistava o trem deserto.

01 de dezembro de 2011
No meio daquela tormenta toda, tentava camuflar toda a dor que existia dentro de mim. Não passavam ainda das três da tarde e o tempo parecia que não tinha pressa em correr. Procurei na velha cômoda que ficava em um dos cantos do meu quarto a procura de algum pedaço de papel.
Ao encontrar, sentei a beira da cama que estava completamente bagunçada com vários modelos de look que logo mais usaria naquela noite. Comecei então a escrever:
Faz um longo tempo que venho tentando escrever a ti tudo o que sinto. Engraçado né? Sempre foi tão fácil conseguir te escrever. Temos passado por tantas coisas, que mal conversamos. Eu queria saber como você está e se você talvez tenha encontrado alguém nesse caminho. Pode até parecer que eu esteja tendo um ataque de ciúmes bobo, talvez seja um fato. Ainda não superei a Renata. Mas quando se ama de verdade, não importa se você estiver comigo ou não, só quero ver você sorrindo. É inevitável não dizer que sinto a sua falta, e que ainda dói, mesmo disfarçado, aceitar que te deixei partir. Sem lutas. Sem tentativas. Apenas você se foi. Parte de mim não consegue acreditar que foi assim tão fácil. Pelo menos dessa vez. Não espero que aceite as minhas sinceras desculpas, pois me machucaria se me perdoasse depois de tudo o que fiz. Agora, eu sei o que é dar valor a alguém, pois eu te valorizo. Mesmo se eu voltasse ao passado, talvez não mudaria nada, pois tenho medo de que a história se repetisse de um jeito ou de outro. É nesse egoísmo extremo que eu sigo te amando, somente pra mim. É uma confusão, eu sei. Mas preciso aceitar o meu destino.
Olhei para o que eu tinha escrito e amassei. Não poderia viver naquela nostalgia.

07 de dezembro de 2010
Sonhar e realizar é realmente possível? Depois de tudo que eu tinha passado e tudo o que tinha acontecido entre mim e o Victor, o improvável, os momentos ruins, o não que ouvi, o que me destruiu e tudo parecer tão difícil, mas to aqui feliz da vida. O improvável se tornou provável! Sei que tudo que aconteceu nesses meses que conheci o Victor até me afastar dele foi apenas pra nos fortalecer, essas barreiras que parecem intermináveis e que estão na nossa frente é só pra nos dar ainda mais força porque eu sei que o melhor está por vir e que essa jornada na qual chamamos de vida nos apresenta só fica ainda mais completa se tivermos alguém para andarmos lado a lado - e o meu alguém se chama Victor. Não consigo acreditar que estamos juntos.

03 de dezembro de 2011
Amelia Louise está em um relacionamento sério
Atualizei o status no facebook e não deu tempo de abrir uma nova página pra que viessem as perguntas: "com quem?". Esperei alguma quantidade boa de comentários e respondi: "Com o Joseph". A Hanessa foi a primeira a questionar: "Com o Joseph que eu conheço?". Respondi que não, que ele era um diferente e que ele tocava baixo. Na verdade eu estava mentindo e apenas queria chamar a atenção de algum amigo do Victor que estivesse online pra que ele sentisse na pele o que eu passava toda vez que descobria mais alguma mentira dele que envolvia alguma garota.

06 de agosto de 2012
Não demorou muito pra que eu me situasse na estação e avistasse o Joseph logo em frente. Ele estava no seu habitual visual totalmente preto e com uma touca que desde que eu o tinha visto pela primeira vez queria roubar. Ainda me lembrava daquele dia que ele chegou com um litro de coca-cola e um saco de batatinhas só porque falei brincando que queria comida. Apesar de fazer um bom tempo desde que nos encontramos da última vez e de toda mágoa, ele abriu um sorrisão no rosto ao me ver no meio daquela multidão que embarcava e desembarcava.Andei alguns passos em sua direção e me peguei de surpresa quando ele me embalou em seu abraço de urso que com certeza era quase o melhor do mundo.
- É tão bom te ver. - eu disse enquanto ele me sufocava de amor e carinho.
- Eu também digo o mesmo. Vamos sair daqui e ir numa lanchonete aqui do lado. Aposto que você deve estar com fome.
- Sempre. - respondi, toda aquela andança tinha me deixado com fome mais uma vez. Começamos a caminhar em direção a saída e em instantes estávamos nos falando como se nada de ruim tivesse acontecido. Ele me perguntava das férias, da minha volta pra SP e de como o inverno tinha sido fraco naquele ano, sobre a minha família e acrescentava falando da dele, dos planos futuros e de que iria fazer vestibular novamente pra tentar uma vaga na USP ou na UFPR. Seguimos algumas ruas abaixo a estação e nos deparamos com uma lanchonete retrô da zona oeste que era muito aconchegante por sinal e que lembrava os filmes americanos como As Patricinhas de Bervelly Hills.
- Senti sua falta. - eu disse após nos sentarmos no fundo do estabelecimento.
- Eu também. - disse ele me olhando sem jeito e sem saber o que mais fazer. Me aproximei bem perto dele e o beijei. Pela primeira vez depois de muito tempo eu conseguia beijar alguém de verdade, eu me permitia a isso e talvez seria o momento mais sincero que teria com o Joseph. Foi tão calmo, tão sublime, tão puro e inesperado. Se me perguntassem há alguns minutos se eu teria coragem de fazer aquilo, com certeza eu responderia que não. Porém, lá estava eu me entregando em um beijo já que tantas vezes que o fiz correr atrás de mim e recuar as suas tentativas de me beijar.

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