Sobre(viver): Capítulo 14

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29 de fevereiro de 2012
Confesso que me dá uma saudade irracional de você. E tenho vontade de voltar atrás, de ligar, de te dizer mil coisas, e cair em suas mãos, sem me importar com nada, simplesmente entregar-te meu coração. Mas não, renuncio, me controlo e digo para mim mesmo que não é assim, que não pode ser, que você se foi, e não volta.”
Fiquei olhando na tela a frase de Caio Fernando Abreu e me identificava em muitas coisas. Saudade já não era a palavra certa que descrevia o que eu sentia e eu estava tão perto de embarcar pra perto do Victor mas ao mesmo tempo me sentia tão distante. Algo dentro de mim me assombrava e me dava tanto medo. Já estávamos na primeira metade da semana das aulas do Victor na Unicamp e aquele medo de saber que novas pessoas iriam entrar na vida dele justo agora quando começamos a nos reconciliar. Aquela agonia de ter que esperar o sinal no final da noite funcionar pra saber do dia e aquela coisa de ir com tudo mais uma vez e poder quebrar a cara. Tentava não pensar nisso tudo. Afinal, um dia a menos pra eu ver o Victor marcava no calendário. Só mais quatro, eu pensei.

26 de fevereiro de 2011
Dava uma checada pela última vez no espelho pra ver se eu estava apresentável o suficiente pro amor da minha vida. Faltava cinco minutos pra meia-noite e com certeza, era muito mais tarde do que eu planejava ter chegado. Arrumava mais uma vez a minha blusa bege que combinava com a saia verde musgo, apenas me arrependia de estar de salto naquele momento pois ele já estava apertando muito que chegava a doer. Entretanto queria ter a certeza que estaria alta o suficiente pra beijar o Victor. Minha mãe me aguardava na porta do banheiro com as nossas malas e eu não conseguia parar de tremer. Ela falou: "vamos?" e eu comecei a andar até o saguão onde muitos esperavam os que chegavam do último voo. Avistei o Victor de longe com o seu pai e tentei manter a calma enquanto meu coração acelerava a cada segundo que passava. Só senti um vulto se aproximando com um beijo forte enquanto tentava respirar naquele nervosismo que aos poucos me deixava sem ar. Era o melhor beijo que eu tinha provado. Sabe aquela sensação de finalmente saber o que é o paraíso? Me sentia assim até que senti um puxão atrás de mim. Era a minha mãe me tirando daquela sensação incrível.
- Louise, o que é isso? - minha mãe falava enquanto eu e o Victor tentávamos nos recompor em meio aquela pequena população de curiosos nos observavam.
- Oi. - eu disse timidamente sorrindo para ele. - Sou Louise.
- Victor. - ele disse enquanto me aconchegava em seus braços. - Esse é o meu pai. - apontava para um homem que apesar de ter 40 anos aparentava ter 30. Estiquei a mão para o cumprimentar e meia-volta cá estava eu observando uma das pessoas mais bonitas do universo. O Victor estava maravilhosamente lindo numa calça jeans clara e camiseta branca. Apesar do salto que eu calçava ainda dava nos seus ombros. Minha mãe e o pai dele conversavam enquanto ele voltava a me encher de beijos me deixando totalmente desconcertada pela presença da minha mãe que nunca tinha visto eu beijar na boca.

03 de dezembro de 2010
Louise: Como será teu beijo?
Victor: Hmmm não sei te dizer, ninguém me quer sabe?
Louise: Humrum sei, olha quem fala... o pegador de todas
Victor: Epa mocinha, tenho dona e ela não vai gostar de você falar comigo desse jeito
Louise: Sério? Me apresenta, quero conhecer a felizarda que conseguiu roubar teu coração
Victor: Ah ela é demais, parece com você e ela não roubou meu coração. Eu entreguei todinho pra ela.
Louise: Awn
Victor: E como será o teu beijo?
Louise: Só provando, sabe?
Victor: Deixa eu provar agora?
Louise: Vem cá
Victor: Queria tanto você perto
Louise: Eu também
Victor: Já sei, vou pedir pra minha mãe pra eu ir te ver
Louise: Sério?
Victor: Sim, eu quero logo te beijar
Louise: Cuidado pras suas meninas não ficarem com ciúmes
Victor: To nem aí, quero você
Louise: Te amo meu amor
Victor: Te amo mais

27 de fevereiro de 2011
- Eu te amo sabia? - sussurrava o Victor mais uma vez nos meus ouvidos enquanto percorríamos do aeroporto de Viracopos até a casa da minha tia que ficava em Hortolândia. Ainda não conseguia acreditar que depois de meses o sonho tinha se tornado real. Não tinha palavras pra descrever a felicidade que me transbordava e que me consumia. Estar nos braços do Victor mesmo com nossos pais no banco da frente da Capitiva nos observando era a melhor sensação do mundo. Nunca tinha me sentido em paz daquele jeito. Ele olhava pra mim como se não conseguia acreditar que aquilo era real e eu o acariciava ao mesmo tempo que o beijava com beijos lentos e intensos.
- Eu te amo mais. - respondia quase suavemente. - Você é o amor da minha vida. Hoje é apenas o primeiro dia de muitos que virão assim. Eu nunca mais quero passar um dia sequer da minha vida sem que você esteja no meu lado. Descobri que o seu beijo não é o melhor, é apenas aquele cujo qual não posso viver sem. Victor, você, aqui, agora, nada mais importa. Te quero pra sempre.
- Louise, você é a mulher da minha vida. Não quero viver mais um dia sem você. Tua presença é surreal. Me beslica de novo? Se isso for um sonho, quero ficar preso nele eternamente. Posso dizer sem nenhuma dúvida que tudo que tivemos que esperar pra viver hoje valeu a pena.
Ele me beijou. De novo. E de novo. Foi um ciclo vicioso e parecia que cada beijo era melhor que o outro, era como se ele quisesse fazer com que cada um fosse inesquecível. E era. Eu me entregava sem medo. Pela primeira vez, eu tinha me entregado por completo e não tinha medo.

29 de fevereiro
Quando menos esperei, o celular tocava. Era o Victor.
- Oi amor. - dizia ele com uma voz sonolenta.
- Oi bebê. - respondi animada. - Como foi o dia?
- Cansativo. Demorei a ligar porque não conseguia sinal e não posso demorar porque amanhã tenho aula cedo.
- Ah. - ouvir aquilo já me desanimava. - Poxa, mas queria tanto conversar.
- Eu também. Mas e aí como foi o seu?
- Foi normal. To terminando de arrumar as malas e terminei de me despedir da Vicky. É tão chato ir embora e não falar pra ninguém. Fico me despedindo sem as pessoas saberem.
- Deve ser. Bem, to indo dormir agora e pensa que daqui a pouco você tá aqui.
- Ok. To louca pra te ver logo e te encher de beijos.
- Também. Pois boa noite, beijo.
- Beijo amor, te amo tá?
- Também.
E assim ele desligou. Queria começar a ter entendido os sinais desde cedo, mas estava cega. Cega de amor.

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