Sobre(viver): Capítulo 16
01 de novembro de 2011
Era difícil encarar mais um dia 01 sem o Victor. Tudo o que
me restava eram vídeo chamadas via Skype, mensagens curtas ou ligações que não
saciariam nenhuma saudade que só acumulava com o longo do tempo. A incerteza
era constante mas mesmo assim eu não deixava aquilo me afetar toda vez que eu
pegava a caneta e o papel pra começar a escrever mais uma carta que se
acumularia.
“Distância nenhuma impediu o nosso amor de acontecer...”,
rabiscava no meu caderno enquanto tentava arrumar o travesseiro pra ficar numa
posição adequada na minha cama ao mesmo tempo que tocava na playlist do celular
Wish You Were Here da Avril Lavigne – “...e hoje já faz quase um ano. 11 meses
para ser exato! Quem diria não é meu bebê? 11, 11, 11, 11, 11! Parece até que
foi ontem quando eu te vi pela primeira vez. Eu estava toda tímida, nervosa e
você todo lindo me esperando. Lembro de você andando até a mim e vindo me
beijar. Depois de tanta espera, de tantos sonhos com o teu beijo, finalmente
provei o gosto da tua boca! Eu sabia que seria perfeito mas foi melhor do que
eu esperava. Inexplicável. E lembrar que tudo começou com a sua declaração, um
ato que me surpreendeu bastante vindo de você. Em seguida, eu te pedindo em
namoro com medo de você só estar me enrolando e ao mesmo tempo com tanta
vergonha e pensando que você ia me dizer um não. De repente você diz que eu
tinha estragado sua surpresa de me pedir em namoro por carta, que era por isso
que você ficava toda hora me perguntando se o correio tinha batido na minha
porta e depois de tanta falatória você disse o tão esperado sim. As mensagens,
as cartas, a aliança, os telefonemas, as palavras ditas. Os ursinhos de pelúcia
e as tuas camisas que me refugiam a cada vez que vou dormir. Os lugares que a
gente visitou, as viagens curtas: no carro ou no ônibus. As músicas que
ouvimos, as noites no hotel ou as horas na sua casa. As idas ao cinema ou mesmo
os filmes debaixo do cobertor. Starbucks, McDonalds ou Bob’s. O café da manhã
no caminho de Campos junto com os patinhos ou no hotel com você me fazendo
provar o suco primeiro pra ver se estava realmente bom com aquela mulher
perguntando se éramos recém-casados. Campinas, Jacareí, Hortolândia, Campos do
Jordão, Imperatriz, Carolina, São Paulo e São José dos Campos. A gente
brincando de dono de loja. A forma que você cuida de mim, que me olha, que me
mantém perto. Me fascina, me deixa louca, me encanta, me provoca. Cada detalhe
por mais pequenino que seja, é especial, mais que isso, inesquecível. Porém as
lembranças das despedidas sempre foram as mais difíceis e tristes demais.
Sempre tentava me fazer de forte na sua frente, mas nunca consegui conter o
choro e me desculpa, a saudade já chegava antes mesmo de ter que te deixar.
Independentemente que estejamos distantes agora, meu coração está com você
assim como todo o resto. Sou apenas um nada se eu não estiver ao teu lado. Eu
te amo mais que tudo e estarei sempre contigo. Nada será capaz de mudar isso ou
destruir o que temos.
Da sua Amelie Takehisa, sempre do Victor.”
As lágrimas corriam por volta do meu rosto e mil pensamentos
eclodiam na minha mente. Lá estava eu voltando mais uma vez no tempo...
27 de fevereiro de 2011
Já eram quase sete da noite, quando largamos a Br 116 – que
nos trazia de Campos do Jordão de volta a Jacareí, onde o Victor me levaria
para conhecer os avós paternos dele. O silêncio era quase absoluto, exceto pela
trilha sonora do carro que continuava sendo Bruno e Marrone. Nesse tempo já
tinha decorado quase todas as músicas.
Minha mãe ainda estava do lado direito da janela do carro me
observando de canto enquanto o Victor em forma de abraço me puxava para o outro
lado, como se tivesse me protegendo de algum perigo. A paisagem quase que
deserta rodeada apenas pela natureza ou fábricas já era deixada de lado
enquanto casas e edifícios com luzes acesas entravam em cena. Olhava pro Victor
mais uma vez e ele sussurrava que já estávamos quase chegando no lugar onde ele
passara a maior parte da vida dele.
Em minutos estávamos na nossa penúltima parada do grande dia
e ao chegarmos lá, a casa me lembrava um pouco da casa da minha falecida avó. A
entrada era cheia de flores e com um portão de grades que visivelmente dava pra
ver o que tinha por dentro. O Victor apertava as minhas mãos fortemente
enquanto esperávamos a avó dele que dava pra se avistar de longe nos receber.
Confesso que estava tremendo e com muita vergonha, era a primeira vez que eu
era apresentada pra quase toda a família de alguém e era muito rápido tudo que
estava acontecendo.
- Então você é a famosa Louise! – dizia a vó do Victor,
Larissa, que ao abrir o portão já esbanjava um imenso sorriso enquanto expandia
as mãos para me receber num caloroso abraço. Sem graça, respondi com um oi
tímido e ela já direcionava-se a minha mãe: “E você deve ser a mãe dela, a
beleza é realmente de família.”
Depois de nos acomodarmos na sala que já lembrava um pouco
da casa da minha avó materna, seja com os porta-retratos pela parede e pela
estante cercada deles ou o sofá enorme com uma cadeira de balanço do lado –
eles encheram eu e minha mãe com milhares de perguntas sobre o meu estado e
depois o centro das atenções foram eu e o Victor, como seria essa vida de
namoro a distância e com os estudos que tínhamos que focar já que estávamos no
início do ano de vestibular.
Foi quando de repente, o Victor se levantou e me puxou junto
já pedindo desculpas pela ausência com a desculpa de que ele gostaria de me
mostrar o resto da casa e ter um pouco de privacidade. Todos consentiram mas já
se entreolhando, acho que talvez perguntando se estavam fazendo a coisa certa.
Ele começou a me mostrar cada canto, inclusive o quarto onde
ficava o computador onde nos vimos através da webcam pela primeira vez. Mas no
nosso último lugar da mini tour, era no quintal onde tinha uma escada de
madeira colada na parede que dava acesso a uma espécie de laje.
- Confia em mim? – disse ele apoiando uma das mãos na escada
e estendendo a outra com um sorriso radiante.
- Até de olhos fechados. – disse. Como forma de me dar
apoio, o Victor me deixou ser a primeira
a subir onde em quase tropeços ele me segurava. Ao chegarmos na parte
superior, dava pra ver toda a cidade iluminada. O Victor me puxa e me conduz
lentamente como se estivéssemos dançando ao som da nossa própria música. Ele me
gira e dar o “gran finale” com um beijo de enlouquecer todo o meu corpo, me
deixando sem ar.
- Eu sempre subia aqui em cima e tentava preencher o vazio
que eu sentia com todas essas luzes, mas era em vão. Hoje pela primeira vez eu
me sinto tão bem, tão vivo. Eu nunca me senti assim com alguém, por alguém,
minha Louise. Você sabe disso. Hoje dei um grande passo que foi apresentar você
a toda minha família e mais do que isso – disse ele revirando a minha aliança –
tornar você a minha família. Eu te amo como nunca e eu não quero deixar você
nunca mais escapar de mim. A minha vida não faz nenhum sentido sem você e só
agora eu percebo. Todas aquelas histórias de filmes parecem bobagem comparada a
nossa vida real. Você tem ideia do quanto eu te quero? Do tanto que eu sempre
quis algo assim e nem me dava conta? Casa comigo Louise, casa agora... Eu não
quero ter que passar mais um minuto sequer sem você.
15 de outubro de 2011
“Querido Victor,
Os dias passam, mas os nossos sonhos permanecem intactos. É
como se fosse ontem que estávamos juntos. A saudade, ela aperta e aumenta a
cada dia que passa, gerando assim dor e angustia na maior parte do tempo, já
que o incerto nos acerta em cheio mais uma vez. Ao mesmo tempo em que causa
tanto sofrimento, sei que ela só nos fortalece, pois é mais um dia que estamos
juntos. É difícil não chorar ou não se desesperar, mas a verdade é que eu só
queria ter você por mais um dia pelo menos. Eu preciso sentir a tua respiração.
Preciso da tua voz, do teu sotaque paulistano misturado com as minhas gírias
nordestinas que eu acho lindo. Preciso estar frente a frente, podendo assim te
olhar e te tocar sem me contentar com uma tela de computador. Eu quero o teu
sorriso, a tua malícia, tuas provocações, teus beijos e os teus sonhos. Quero as
tuas certezas e incertezas, tuas qualidades e teus defeitos aqui cara a cara
comigo. Eu quero você, por inteiro. Eu quero você por mais um dia, um mês, um
ano. Eu quero você. Agora. Sempre.
Muitas vezes eu fui tão fraca ao ponto de pensar em desistir
por não aguentar ficar tanto tempo longe. Demorei tanto perceber que isso é
algo temporário e que não precisava passar por tudo isso sozinha, já que você
também passa o mesmo e sempre esteve aqui do meu lado. Hoje eu sei que se um
dia eu ter uma dessas crises novamente, você vai estar pronto pra colocar um
pouco de juízo em mim da mesma forma que eu estarei aqui pra você. Eu já não
tenho mais medo do que possa chegar a vir, já que enfrentamos tantas barreiras.
O nosso destino já está traçado, acredito e por mais que venham brigas, que
todo dia tenha alguma frase ou outra que não nos agrade, mudanças de humor e
outras coisas – já está no ‘nosso normal’! É ruim? Com certeza! Só que sempre
nos entendemos e acabamos relevando mesmo achando que estamos no nosso limite
de coração partido. Quero te dizer mais uma vez: eu estou aqui por você, apenas
pra você e pretendo estar até a eternidade. Está mais do que a hora de perceber
que a minha vida se resume a sua. Você é o amor da minha vida, Victor. Eu amo
você de verdade.
Da sua infinita,
Louise”
16 de fevereiro de 2012
Não sabia ao certo se conseguiria discar aquele número já
decorado na minha cabeça. Já fazia quase uma semana que não falava mais com o
Victor e apesar de ter uma excelente notícia pra compartilhar, não sabia ao
certo se ele me atenderia.
Me tranquei no banheiro do supermercado, onde parecia o
lugar mais tranquilo do lugar que simultaneamente meu pai fazia as primeiras
compras da viagem que se aproximaria. Meu coração pulsava tão rápido como se eu
fosse ter algum ataque. Puxei o celular do bolso e comecei a digitar.
No primeiro toque, aquela voz tão familiar me atendeu.
- Pensei que você tinha sido clara em não me querer mais na
sua vida. – disse ele com um tom baixo e ao mesmo tempo surpreso.
- Eu tenho uma notícia pra você e talvez você nem queira
ouvir... – disse, tentando não desanimar. Eu sabia que eu tinha cometido um
erro terrível mas eu esperava que com aquilo ele me perdoasse. – Meus pais
conversaram e decidiram hoje que eu vou poder ir morar em São Paulo. Eu estou
indo pra perto de você.
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