Resenha - Para não esquecer: sinta!



Por James Pimentel
Arrisco afirmar que o desafio de todo escritor é (tentar) traduzir com palavras sua própria realidade. Ler um texto, independente do autor, época ou estilo, é a provocação de decifrar o modo de pensar e a visão de mundo do eu-escrito. Isso seja, talvez, regra de senso comum, mas que em nenhum momento se encaixa para definir a escritora ucraniana Clarice Lispector, tão conhecida nas legendas de fotos nas redes sociais e pouco decifrada no intelecto individual de seus leitores.

Até por que tentar decifrar os escritos de Lispector não chega a nenhum momento perto verdade que a autora transpassa. Até por que não há verdade. Tampouco há mentiras. São nas entrelinhas que se sustentam seus escritos: “Mas já que há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas”. É nessa busca da subjetividade, da incerteza, do talvez, que as 108 crônicas reunidas na obra “Para não esquecer” levam o leitor a refletir sobre aspectos sutis do mundo, desde a pequenos objetos, como um quadro ou um espelho, até sobre seus relacionamentos.

Ter esse livro em mãos é frequentemente baixar a cabeça e viajar no “o que será que ela quis dizer?”. Mas, meu leitor, te peço perdão agora mesmo! Fico extremamente inquieto por nesse exato momento está ferindo a proposta de Lispector, induzindo você a entender o que se pode esperar nessa obra. Com ela você vai aprender que o mundo não exige traduções. Não se decifra ou decodifica uma realidade. Nossa busca por significados tira-nos o que há de essencialmente natural em nós: o sentir.

Por isso não me atrevo a escrever mais. “Para não esquecer” é uma obra de 127 páginas que te levará a pensar, sentir e se inquietar - sem traduções. Está disponível no acervo da Livraria Interativa, localizada no primeiro piso do Tocantins Shopping, por apenas R$ 27,56.

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