Trinta contra todas



Quando ouço um relato sobre assédio, agressão e estupro, eu lembro de várias cenas da minha vida. Passam como slides de Power Point na minha cabeça. Um por um.

Quando ouço alguém falar que fulana "pediu", seja lá qual for o argumento, sinto uma dorzinha no peito por saber que roupa nenhuma desse mundo "pede" por algo assim - e isso vale pra qualquer que seja o argumento porque não existe argumento.

Quando eu saio pra algum lugar e vejo caras passando a mão numa mulher, muitas vezes sem ela perceber, me dá um nojo profundo por ele estar se achando "o" cara por fazer algo tão desrespeitoso, tão imaturo. Penso naquela perguntinha de lei: e se fosse sua mãe? Sua irmã? Sua prima, tia, avó? Parece maneirão ainda?

Quando vejo caras muito legais, muito gente boa, muito amiguinhos, traindo suas namoradas sem um pingo de remorso e fazendo chantagenzinha emocional quando elas resolvem tocar no assunto, me dá uma ânsia de vômito automática. E pena. Porque são caras que não valem a pena + mulheres incríveis que não merecem isso.

Quando ouço numa rodinha de amigos ou num papo em família um "mas" pra tentar justificar um ato de abuso ou violência contra mulher, me dá um nervoso inenarrável, porque não é esse tipo de caminho que aquela conversa deveria, na verdade, tomar. Não tem "mas", minha gente.

Mulheres são estupradas a cada 11 minutos no Brasil. Deve ter alguma mulher sendo estuprada agora. Saindo ou chegando do trabalho, da faculdade, da igreja, do cinema, do táxi, no táxi, em casa. Enquanto transam com seus namorados sem vontade, enquanto beijam um desconhecido só pra ele parar de encher o saco, enquanto são tocadas sem permissão, enquanto bebem, usam drogas, vão pra baile funk no morro. Deve ter mais alguma mulher sendo estuprada agora.

Por Leyda Torquato (@torquatoissue)

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