SOBRE(VIVER): Capítulo 3

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29 de novembro de 2011
Quanto mais você ama alguém, menos tudo faz sentido. Essa é a verdade. Lembro de ter lido algo enquanto folheava algumas páginas de um livro que dizia: “Eles não concordavam em nada, brigavam o tempo todo, se provocavam todos os dias, mas apesar das diferenças havia algo importante em comum: eram loucos um pelo outro.” Talvez, aquela frase fosse o meu caso. Ainda estávamos brigando desde que ele chegou da Argentina e eu descobri que ele mentiu pra mim. Aquela era uma das primeiras descobertas e eu não sabia como lidar. Porém, recorria sempre ao amor e querer estar junto dele. As conversas por Skype, estavam diminuindo e eu sentia falta do sorriso dele, mesmo pela tela do computador. O sorriso dele completava o meu, e eu sentia falta disso também. Nós costumávamos rir à toa A distância apesar de já ter sido vencida diversas vezes estava provando o contrário agora. Estávamos com pensamentos longes também. Cada um seguindo por si só. Mas negava isso. Após a aula, recebi uma mensagem que o meu amigo Lucas estava pela cidade, tinha acabado de chegar de Campinas e queria muito me ver. O convidei aqui pra casa, já que o Victor naquele dia ficaria no cursinho o dia todo.
O Lucas, apesar de morar há quilômetros de mim, era um ótimo amigo. Conheci ele em 2009, nas férias por causa de uma amiga minha que ele queria ficar, só que apenas em 2010 começamos a conversar por causa de outra amiga em comum que ele tinha namorado, a Catia. Ele parecia um galã de novela como o Caio Castro e antes de eu conhecer o Victor tinha muita vontade de ficar com ele, mas nunca teria a chance. Depois que ele terminou com a Catia nos aproximamos pois ele queria ajuda pra voltar com ela e acabou depositando todos os seus sentimentos de coração partido em mim. Entretanto, a Catia nunca gostou de estar presa e sempre ficava com um e outro. Ela era linda, alta, loira e vamos dizer: gostosa. Qualquer garoto cairia aos pés dela. O Lucas não era exceção e toda vez que ele vinha para a cidade visitar os seus primos, eles ficavam. Só que dessa vez ele estava disposto a dar um fim nisso.
Ao chegar em casa, ele me contou sobre ter tentado esquece-la e como meu namoro não estava indo bem, decidi conta-lo tudo o que estava acontecendo. Estávamos a sós, quando ele disse: eu gosto de você. Eu fiquei sem reação. Eu não conseguia acreditar e disse pra ele que se fosse há um tempo atrás, eu até gostaria de ter ouvido aquilo mas ele estava confundindo as coisas no momento. Só estava carente e apesar de eu estar assim, amava o Victor e não iria traí-lo nunca. Ele tentou dizer que não era carência e que queria ficar comigo. Mas eu o mandei embora. Depois disso paramos de nos falar por um tempo.Quando o Victor teve um tempo, me ligou como sempre fazia. Acabei contando pra ele que tinha visto o Lucas, mas a reação dele foi desnecessária.
- Só posso estar namorando uma vadia. Como você fica sozinha com um menino na sua casa? - disse ele bufando de raiva por detrás de um telefone.
- Do que você me chamou? - estava sem reação e só poderia ser um pesadelo estar sendo chamada desse nome.
- Vadia. - disse ele sem dó nem piedade.
- Ah claro, eu sou a vadia. E você que foi visitar a Renata na sua viagem e mentiu na maior cara dura pra mim. - jogando a mentira dele na cara.
- Sou mentiroso né? – Respondeu com um tom irônico.
- Não falei nada.
- Porque você não vai lá pro seu amigo e namora com ele?
- Deixa de ser criança, cansei desses seus joguinhos infantis.
- Além de mentiroso, eu sou criança. Pelo menos eu não trago nenhuma menina aqui pra casa. Eu devia trazer e ficar sozinha com ela.
- Para com drama.
- Quem tá fazendo drama é você.
- Eu não sei porque você é assim. Meus amigos todos me perguntam porque eu ainda estou com você e simplesmente eu não sei mais.
- Nem eu sei porque eu to com você.
- Ah, então porque você não termina?
- Te pergunto a mesma coisa.
- Ta bom, tchau.

Desliguei o telefone na cara dele. Eu odiava brigar, mas não suportava aquilo. Sei que ele não retornaria, pois ele se irritava cada vez que eu desligava repentinamente. Fiquei pensando que nada é feito pra durar. As pessoas nunca estão instáveis e as palavras daquela ligação me machucaram. Doía em mim. Muito. Queria dar o troco nele, que a raiva passasse, que apenas voltássemos a época feliz. Me perguntava onde foram parar todas aquelas promessas que fizemos e que só continuavam a ser quebradas. Fechei os olhos e me peguei no passado de novo.

02 de dezembro de 2010

Me tranquei no quarto e tremendo abri aquele envelope que estava destinado a Amelia Louise.  O envelope era comum, daqueles baratinhos que encontramos no comércio mas o papel que tinha dentro apesar de ser folha de caderno estava todo dobrado como se fosse um origami.

É eu demorei tanto pra entender que é de você que eu realmente gosto; e agora que percebi isso fiquei com um baita medo de te perder guria, ou de você não sentir nada por mim... Prometo fazer tudo diferente dessa vez, pra fazer com que você acredite em mim.
Ai como é bom voltar a receber as tuas mensagens sabe? Falar contigo no msn, bebê; eu podia apenas dizer “eu te amo”, seria o melhor jeito de resumir tudo que eu sinto em uma pequena frase haha, mas vou dizer mais, vou dizer que tu é muito importante pra mim e que ficar sem você na minha vida não dá. Bebê, é tão difícil fazer uma amizade feita pelo msn durar assim, mas a nossa é diferente né?
Eu durmo todos os dias pensando em como seria ficar nos teus braços e sonho com um beijo seu, acho que já está na hora de virar realidade não? Rs. Quero tanto poder te ver logo Louise e que dessa vez dure pra sempre, pois eu não quero te perder de novo amor, eu me senti tão triste o tempo que não nos falamos. Mas foi bem estranho sabe, parece que nesse tempo você estava no meu pensamento, eu só não soube interpretar o que sentia, acho que por medo de não ser reciproco e acabar me decepcionando.
Hm, agora imagina como seria passar um dia inteiro juntos, seria tão bom. Eu sei que tenho os meus defeitos, todos tem, mas vou tentar se o melhor pra você. Eu te amo muito. Um dia você me mandou uma mensagem dizendo que iria me fazer feliz não é? Então se você realmente quer isso, aceite namorar comigo.

Li diversas vezes e não acreditava que ele tinha escrito aquilo. Ele tinha escrito um dia após ter me ligado pela primeira vez e eu não conseguia acreditar. Ele tinha pensado em mim, ele realmente me amava. Ele tinha sentido minha falta. Era a melhor coisa que podia ter me acontecido e eu era a mulher mais sortuda naquele momento. Caiu a ficha que eu estava namorando o amor da minha vida.

18 de novembro de 2010

Era engraçado não estar logada por tanto tempo. O castigo ainda me assombrava e entrar ali no Messenger as escondidas só pra ver se tinha alguma coisa interessante, poderia me custar mais dias sem internet caso minha mãe me visse online. Porém naquele dia, alguém notou a minha presença online. Era o Victor mandando mensagem.

Victor: Louise?
Louise: Oi
Victor: Eu preciso muito falar com você.
Louise: aconteceu alguma coisa?
Victor: na verdade aconteceu sim
Louise: o que foi?
Victor: eu gosto de você
Louise: eu também gosto
Victor: mas eu to falando sério. Eu gosto mesmo de você. Como homem gosta de mulher. Ta vendo meu status, não tem nenhum subnick.
Louise: olha, eu preciso sair. Depois conversamos.

O meu castigo era pelo simples fato de eu ter saído de casa escondido da minha mãe pra uma feira de ciências de outro colégio. Minha mãe tinha me deixado de castigo por quase dois meses e eu só poderia mexer no computador se fosse pra pesquisar algo na internet e se fosse realmente crucial. É claro que se eu demorasse mais um segundo no computador, ela me deixaria sem internet até eu me formar. Mas o que será que o Victor estava pensando ao me falar aquilo? Devia estar na seca e precisava de um subnick diferente pra poder colocar o nome. Idiota. Primeiro a mensagem dizendo que sente falta, agora vim puxar assunto no msn dizendo que gosta.

Telefone vibra. Era mais outra mensagem do Victor.

“Louise, já faz um tempo que eu quero te falar isso. Mas eu gosto de você de verdade. Não adianta negar. O que eu sinto por você, eu só sinto por você e pela minha melhor amiga. Me dê uma chance de te provar.”

Idiota. Foi o que eu pensei mais uma vez. Diz que gosta de mim e que sente o mesmo pela melhor amiga? Claro que eu vou cair nessa. Nem vou responder. Mensagem deletada.

19 de novembro de 2010

Sexta-feira. Dia de estreia do penúltimo filme do Harry Potter. Nem acredito que eu estou perdendo essa estreia porque a minha cidade é uma merda e o filme só chegará aqui em novembro. Mas daqui a pouco estou de férias e meu castigo termina, vou aproveitar que minha mãe foi a igreja e vou checar meu msn.

Online > Ocupado. Janelinha piscando. Quem será?

Victor: Louise, me escuta.
Louise: Oi Victor.
Victor: Você tem um minuto?
Louise: Fala ai.
Victor: Olha eu me expressei mal ontem à noite. Mas eu queria te dizer uma coisa.
Louise: Hm
Victor: Eu preciso de você.
Louise: Sério? Ah, conta outra.
Victor: Eu nunca falei tão sério na minha vida.
Louise: Olha, preciso sair. Se quiser conversar, manda por mensagem.
Victor: Tudo bem.

Lá vem o Victor de novo com essa historinha dele. Parece que ele não cansa. Pensei. Telefone vibra de novo, visualizo e é ele.

"Louise, tentei negar várias vezes o que sentia por você. Mas esse tempo que passamos separados, eu não conseguia parar de pensar em você. Eu cheguei a estar perto de uma garota e ir ficar com ela porém era você que me vinha na cabeça. Não fico com ninguém há dias. Não consigo. Não quero. Na verdade, eu quero. Quero você. Você comigo. Se isso é amor, eu não sei. Mas eu vou fazer diferente. Não irei falar que te amo. Porque falar que ama é algo que todo mundo fala e as pessoas não fazem uso certo desse verbo. Por isso, irei dizer: eu realmente gosto de você. Isso é sincero. Ninguém diz que gosta. E gostar no momento, é mais forte que amar. Eu gosto de você."

Comecei a chorar. Era forte. Era inexplicável. Era tudo o que eu queria e ao mesmo tempo não. Passei esse tempo todo ficando com vários meninos, quebrando teorias e corações. Dando o troco no garoto que trocava de subnick a cada semana. Dizendo a mim mesma que cara nenhum era digno e ele vinha naquela noite me dizer que ele gostava de mim. Gostava, não amava. Era sincero. Minha mão tremia ao ler e reler várias vezes aquela mensagem. Mas não decidi responder. Toda menina pelo que ele me contava caia aos pés dele. E eu não seria mais uma. Não sei porque, mas meu coração dizia que era verdadeiro. Só que as mensagens não paravam por aí. Ele mandava coisas como “irei te provar”, “você precisa confiar em mim”, “você me conhece e sabe que eu não correria atrás de alguém que não estivesse ao meu lado, aliás eu nunca corri” até eu finalmente ceder e responder “tudo bem, eu te dou uma chance. Faça com que eu não me arrependa”; mas isso só foi no outro dia. Eu tive que digerir aquilo tudo.

21 de novembro de 2010

Dizem que o amor é como o vento, você vê mas pode senti-lo. Aquela frase de Um Amor pra Recordar fazia muito sentido. Lembro de acordar emburrada por ter que ir a um encontro da igreja no qual a minha mãe tinha me inscrito. Tinha dito pra mim mesma, que não iria me apaixonar e que não queria mais nenhum garoto na minha vida. Mas aqueles últimos dias tinha virado a minha cabeça, mas eu ainda não tinha certeza de muita coisa. Não estava convicta de toda aquela mudança repentina e aquilo me intrigava.
Eu iria ficar no encontro o dia todo, já o Victor teria uma prova de vestibular no Mackenzie e não teríamos como nos falar. O encontro era só pra adolescentes e a noite, teria uma festa a fantasia das profissões que queríamos ser quando crescer. Como não arranjei nenhum jaleco pra me vestir como uma futura psicóloga, coloquei a minha camiseta de paparazzi que tinha comprado durante a viagem pra Disney, short e tênis. Fui à casa de um amigo que morava perto no intervalo das palestras e o início da festa afim de me trocar já que os banheiros do local estavam lotados e cheios de fila. Após meu asseio, fiquei na porta conversando com ele e a espera de uma amiga que também iria para o evento pra voltarmos juntas. Estava uma noite clara com direito a lua e a estrelas, como sempre. Do outro lado da rua, tocava Seu Astral do Jorge e Mateus, pois eles estavam estourando nas rádios naquela época. Quando eu peguei o celular pra ligar pra minha amiga pela demora e o nome dele aparecia na tela: Victor Takehisa está te ligando. Atendi sem hesitar com uma intensidade de surpresa admirável em sintonia com a dele por atender sem sequer tocar.
- Alô. - eu disse sem saber muito o que falar.
- Nossa, você não deixou nem tocar.
- Ah é que eu estava com o celular na mão.
- Bem, eu nem sei o que dizer, estava treinando o que te falar e não imaginava que iria atender.
- Imagina eu.
- Sua voz é muito linda.
- Obrigada, a sua também.
- Coloquei crédito agora e já está apitando que vai acabar a ligação. Odeio essas ligações interurbanas. Mas eu queria arranjar um jeito de te provar que tudo o que eu te falei nessas últimas horas é sério e real. Como não posso ir até o Maranhão nesse exato momento, o melhor jeito seria eu te ligar.
- Você é um fofo sabia? Nem estou acreditando. Você conseguiu me fazer rir. O dia estava um tédio. Obrigada mesmo por me ligar.
- Então, falo com você por mensagem?
- Fala sim.
- Então vou desligar. Até logo, beijo
- Até, beijo.

Eu viajei no seu olhar, no seu sorriso, nos seus desejos. A música prosseguia. O meu sorriso se esticava. Eu olhei para o céu e agradeci a Deus. Era a prova que eu precisava pra acreditar, era a resposta das minhas orações. Ele nunca ligava pra uma garota e ele não atendia o celular a não ser que fosse sua melhor amiga ou o telefone fixo de casa - coisas cujo qual ele tinha me contado. Ele nunca movia uma palha pra ir atrás de uma menina, nem se fosse namorada. Lembro dele ter namorado uma menina por quase um mês e ela morava há meia hora da cidade dele, já que a maioria das cidades do estado de são Paulo são interligadas. Mas ela que tinha que ir ao shopping da cidade dele pra eles se encontrarem. Ele nunca foi a casa dela e não fazia questão de levar pra casa dele. Não ligava pra ela e só se falavam por msn ou mensagens, já que ele tinha um plano de mensagens. E lá estava ele me ligando. Era a primeira vez que ele me ligou. Era a primeira vez que eu estava ouvindo a voz dele. Naquele momento, eu o deixei entrar. Ele havia aberto a porta do meu coração e tinha me feito acreditar. Ele não ia ser só mais um. Não era mais uma brincadeira. Era apenas o Victor, o menino da outra cidade que me ligou. Foi ali que eu soube que era amor.

“Estou tão feliz por ter ouvido a sua voz. Você que fez meu dia. Eu já te disse o quanto eu gosto de você?”. Era mais uma mensagem dele e eu não conseguia parar de rir de felicidade. Não importa se você conhece alguém a um dia, um mês ou um ano, quando é de ser amor, você sente até no primeiro minuto. E todo o sentimento que eu senti quando ele apareceu na minha vida, estava reaceso. Eu nunca o tinha esquecido.  Tudo o que eu tinha vivido era parte de um propósito, era pra eu estar pronta pra ele. E tudo o que ele viveu, era pra estar naquele momento pra mim. Se foi destino, eu não sei. Mas era pra ser.

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