Sobre(viver): Capítulo 12

13:58

19 de novembro de 2011
- Uma dor que nunca pode ser sequer comparada é a de quando não te encontro aqui do meu lado.
 - Ain, porque mesmo que a gente briga? - perguntei fazendo um biquinho de uma criança que tinha acabado de perder um doce. - Eu não devia te dizer isso e nem acredito que o vou dizer, mas eu ainda te quero.
- Eu também.
- A gente podia ser menos destrutivo né?
- Eu também acho isso. - ele disse rindo.
- Que risada bonita, é impossível não querer sorrir quando você sorri.
- Parece que alguém tá apaixonada ai né?
- Você né?
- Sabe o que eu queria?
- O que?
- Sua companhia, seria tudo o que eu precisava esta noite.
- Awnnnnn, eu também.
 - Eu quero te ver.
 - Skype?
 - Não, eu queria te ver agora. Pessoalmente.
- Bem, o próximo voo sai as 22h.
- To pegando.
- Quem dera se fosse verdade.

27 de fevereiro de 2011
Minha mãe desfazia as malas dentro do quarto e eu não conseguia dormir depois daquela hora incrível que eu acabara de ter. Já tinha tirado a roupa e maquiagem, tomado um banho e agora mergulhava dentro do meu pijama. Apesar que mesmo estando limpa, o cheiro dele ainda permanecia em mim e eu nem acreditava que aquilo era real. A casa da minha tia ficava num sobrado, ao lado de um bar, que já nem dava pra ouvir mais aquela música alta que ouvi quando tinha chegado, acho que era o fato de a sala de estar ser quase no final da casa. Procurei dentro da minha bolsa, o pergaminho em forma de carta-diário que ele tinha me escrito e  me ajustei no sofá para começar a ler. A letra dele era tão linda. Apesar que quem julgasse acharia que era de mulher, mas era totalmente masculina e arredondada de uma forma que sentia inveja por minha letra ser como um bagaço ou garrancho, como dizia minha mãe. Mas era uma arte.

“23/01/11
Esse foi o primeiro dia que eu escrevi nessa carta, pra você meu bebê. Depois de muita espera, algumas cartas enviadas pelo correio e tudo mais. Pois já vou avisando que tudo o que vai ler de bom aqui também vai ouvir. Ah, só quero ver se você vai me aguentar o tempo todo no seu pé, não deixando você sair de perto nem por um segundo. Ps, vou te beijar o tempo todo, talvez até nesse momento mesmo.”

Que droga, eu devia ter esperado pra ler só no outro dia. Mas estava ansiosa demais.

“Já passamos com certeza por alguns dias bem complicados, escolhas difíceis, e agora vamos dizer ‘poxa vida, valeu muito a pena por tudo isso’, e o importante é estarmos juntos e finalmente deixar o ‘pra sempre’ acontecer. O que eu acho mais perfeito é poder passar o dia 01/03/11 com você minha vida. Vão ser 3 meses, pra alguns pode parecer bastante tempo, porém pra gente é apenas o começo. Olha, se eu desisti de alguma faculdade nesse ano é porque eu sei que momentos bons como o que estou vivendo agora vão ser cada vez mais constantes. Entenda que eu só vou ser feliz se você, Louise, estiver comigo. Me abraçando nas horas boas e ruins, me beijando toda hora e tudo mais que eu tenho direito. 
Como estou escrevendo essa carta pensando no futuro, não sei bem o que estarei fazendo... Provavelmente estarei, bem colado contigo, te dizendo bem no ouvido que você é o grande amor da minha vida. Se eu tive realmente alguma certeza na vida, essa certeza é você Lou, você mexeu com a minha cabeça de um jeito que nem eu consigo compreender.
Creio que uma tal música que você me mandou um dia desses, pode descrever um pouco disso tudo (e estou ouvindo ela bem agora), então resolvi escrever um pedaço da letra bem aqui: ‘You lift my feet off the ground, you spin me around, you make me crazier’
Largaria tudo a qualquer hora só pra te ver e não pensaria duas vezes, nem sequer olharia para trás. Você pode até pensar que sabe o quanto eu te amo, só que na verdade não deve saber mais de 1/3 do que eu sinto. É algo mais forte que tudo, mais forte que a minha própria vontade de viver, pois parece que acordo e respiro só pra poder pensar em ti, falar contigo e agora, poder te tocar meu bebê.
Eu me esforço muito pra tentar ser o melhor pra você, por mais que eu pareça um chato aqui. Acontece que é tudo tão novo pra mim, nunca que eu tive ciúme de alguém e mais, será isso temporário? Quem sabe depois que você casar comigo não melhore né?
Observação do dia: caraca, como eu gosto quando você canta pra mim bebê, adoro a sua voz super fofa <3
Acho quase impossível esquecer das madrugadas que a gente passou conversando, mesmo nas que tiveram brigas, creio que foram muito importantes pra mim e creio que pra ti também. Mesmo com a ‘querida’ tim cortando as nossas ligações. Maldita operadora :@”

Comecei a chorar e ainda não conseguia acreditar que ele escutava mesmo as minhas músicas melancólicas que mandava pra ele ou que ele adorava me ouvir cantar. Sabia que ele me falava isso por telefone, mas não conseguia acreditar que tudo aquilo era real. Olhei ainda o resto da carta-diário e vi que ainda tinha muitas datas. Eram seis páginas frente e verso. Prossegui.

“27/01/2011
Aposto que esse foi um dia difícil, 3:47 am
Assim que desliguei o celular, comecei a ouvir minhas músicas, parecia estar tudo ‘bem’ comigo sabe? Foi aí que me enganei, acho que por dentro eu sentia uma dor enorme e acabei chorando. É bem difícil disfarçar um sentimento que por dentro me torturava, por mais que eu tenha parecido bem, assim que fiquei sem a sua voz, não resisti.
Embora tenha acontecido isso de você não estudar mais no internato temos que pensar no lado positivo, pensar que vamos ter os melhores quatro dias juntos, e isso não vai separar a gente, sei que é só mais um problema e que vamos dar ‘nosso jeito’ e continuar juntos.”

Comecei a chorar ao ler aquilo de novo, aquela dor ainda me assombrava. Pensar que não era só eu que continuava chorando por aquilo, mas saber como ele sofreu também com a notícia. Aquilo me fazia reviver todo aquele dia.

26 de janeiro de 2011
Já estava andando de um lado pro outro pela casa pelo fato de simplesmente já passar das 20h e minha mãe não ter chegado em casa com a resposta do meu pai. Eu já estava frequentando as aulas na minha cidade, mas não suportava estar indo forçadamente. Quando finalmente ela chegou, pediu pra minha irmã ir para o quarto e pediu para que eu permanecesse na sala com ela. Ela estava com uma cara aborrecida e aquilo me dava medo. Ela ficou me olhando e não falava nada e eu não sabia o que dizer, até que ela começou a falar.
- Amelia, eu conversei com o seu pai e a resposta dele foi bem clara. Foi não.
- Mas mãe!? – incrédula ainda do que ela dizia.
- Ele disse que não aprovou seu comportamento nos últimos dias e que você ainda não estava pronta para ir morar no internato, por mais que a casa da sua tia seja próxima. E eu estou muito desapontada com você.
- E você conseguiu argumentar algo?
- Não. A decisão dele já estava tomada e você sabe como é o seu pai.
- E agora mãe? O que eu vou fazer? – falei sem quase nem conseguir.
- Agora, você deve continuar a frequentar o colégio aqui.
- E quanto as passagens?
- Ele concedeu que você pudesse viajar comigo, pra você não perde-las e você terá que pagar toda a viagem com o seu dinheiro.
- Tudo bem. E quando podemos ir?
- Não é bem assim. Eu preciso falar com o meu chefe e você só poderá passar quatro dias no máximo.
- Jura mãe? Você é a melhor, quatro dias já são o suficiente! Vou já olhar os preços das passagens pra poder remarcar.
- Vai com calma. Também não pode ser pro início desse mês, procure pro final.
- Tudo bem mãe. Obrigada de qualquer forma. – falei segurando as lágrimas que queriam sair de dentro de mim. Fui para o meu quarto, olhei algumas passagens na internet e os preços estavam razoáveis, só que bem mais caro do que eu já tinha pago. Peguei o celular e liguei pro Victor disfarçando a voz de quase choro.
- Oi Victor, você pode falar?
- Oi amor, precisa ser agora?
- Aonde você está?
- Lembra da festa do Lucas? É hoje, ai to aqui com meus amigos na casa dele.
- Ah, desculpa. Tinha me esquecido. Você vai demorar ai?
- Um pouco, agora que começou.
- Ah tudo bem, quando chegar em casa me liga.
- Aconteceu alguma coisa?
- Quando chegar em casa eu te explico. Aproveita ai, beijos

Desliguei o telefone e comecei a chorar. Eu não conseguia evitar. O meu sonho de morar no internato tinha se tornado ainda maior depois que o Victor tinha entrado na minha vida, só assim poderíamos ficar juntos e viver perto um do outro. Dias atrás, ao passar na universidade em Pelotas no Rio Grande do Sul ou até mesmo na do Mato Grosso, ele tinha desistido delas pra poder ficar perto de mim e ir morar em Campinas com o pai pra fazer cursinho só pra podermos aproveitar o ano. Como eu diria a ele que todos os planos feitos eu não poderia cumprir? Já bastava eu não ter conseguido ir a uns dias atrás ver ele e ter que esperar a decisão dos meus pais ser adiada mais uma vez. Aquilo era demais. Tentei me acalmar de todas as formas possíveis, afinal ainda tinha quatro dias pra poder estar com ele. Mas se ele não quisesse? E se ele terminasse comigo por a distância não ser um problema temporário mas permanente. Todas aquelas dúvidas me corroíam e aquela dor me matava. Quando ele me ligou, já era quase meia-noite e eu ainda não sabia como dar a notícia. O jeito era saber se ele realmente me amava e estar disposto a ficar comigo mesmo a distância, pois eu imaginava que iriamos terminar.

- Oi amor. – ele disse.
- Oi, como foi a noite?
- Ah foi muito divertida, fazia tempo que não via meus amigos desde o dia que a gente tinha saído pra beber.
- Fico feliz que se divertiu.
- E você o que fez?
- Ah, eu conversei com a minha mãe. Só isso.
- Até que enfim, então... que dia eu vou poder ver a minha namorada?
- Quero conversar com você sobre isso! Você realmente me ama?
- Você ainda ousa a me perguntar sobre isso? É claro que eu te amo, você é o amor da minha vida.
- Eu fico feliz de ouvir isso. – aquilo me matava.
- Mas você não parece, tá ai duvidando e agora fez uma voz tristonha.
- Olha, eu preciso te dizer algo e isso me machucou a noite toda. Eu não sei como te falar, mas quero que me escute bem. Eu te amo muito Victor e eu nunca vou deixar de amar você, pode acontecer o que for ou ter alguém, eu sempre vou ser sua. Sempre vou te amar. Mas eu tenho que te dizer que eu não irei mais morar em Hortolândia. Eu não vou pro internato e seria egoísta demais te pedir para permanecer comigo. Você já desistiu da faculdade por nós e agora eu não posso nem te retribuir.  - comecei a chorar. –  A única coisa que consegui foram alguns dias pra ficar com você e apenas isso. Mas antes de você tomar qualquer decisão, eu quero ir te ver. Quero ficar com você. Quero sentir o teu beijo, tua pele na minha, te abraçar. Quero ter esse momento contigo. Eu preciso.
O silêncio reinava, apenas o barulho do meu choro existia.
- Victor, você está ai?
- Estou sim. – disse ele com voz tristonha. – Era por isso que você me ligou? Porque você não me disse isso?
- Eu não queria estragar o clima.
- Eu te amo Louise, coloca isso na cabeça. Eu nunca vou me separar de você por causa disso. Confesso que estou muito triste com essa notícia, mas nem por isso eu vou me distanciar de você. Agora dá mais vontade ainda de te ver e de poder te ter nos meus braços. Eu quero uma vida com você Louise e nós vamos ter ela. Eu vou me casar com você. Você é a mulher da minha vida e não vai ser a distância agora que irá nos separar.
- Mas eu não vou morar perto de você.
- Eu sei, só que eu farei de tudo pra estar sempre com você e você acabou de me dizer que temos alguns dias juntos agora né? Então vamos aproveitá-lo o máximo. Eu vou estar com você. Eu estou aqui por você.
- Eu não queria que isso acontecesse, me desculpa. Me desculpa mesmo.
- Eu queria poder te dar um abraço agora e fazer você parar de chorar.
- Eu também.
- Mas eu não to chorando.
- Você entendeu. – eu ri.
- Você consegue parar com o choro e cantar pra mim?
- A minha voz vai tá horrível.
- Tenta. – ele insistiu.
- Ok. Eu tava ensaiando uma nova mesmo. Já ouviu o Jesse McCartney?
- Não.
- Ele tem uma música bem bonita e eu amo ela.
- Qual é?
- Beautiful Soul, ela me lembra muito você. Ela fala que não quer nenhum outro rosto bonito, nem outra pessoa para amar, que só quer você - no caso a pessoa descrita - para amar, abraçar, porque ela é especial, fiel e tudo o que ele precisa, que quer você e sua bela alma.
- É linda a letra. Pode começar a cantar aí.
- Ok. Um minuto... – tentei desviar o choro pras lágrimas e comecei a cantar... É claro, que a tristeza evaporou durante aqueles segundos mas descrever todo o choro que aconteceu depois entre nós dois, é lastimável.

19 de novembro de 2011 
 Olhei aquela lista enorme com perguntas para a enquete da feira de ciências. Era um quase um questionário socioeconômico só que com mais coisas pessoais. Peguei a caneta no estojo e o tempo começou a ser cronometrado, pois o professor só tinha liberado 10 minutos para o pessoal do segundo ano fazer aplicar a enquete conosco. Olhei-o novamente e comecei a responder.
Responda:
1. É menino ou menina? Menina
2. Tem quantos anos? 17
3. Mora aonde: Vila Lobão
4. Seu cabelo é de que cor? Castanho escuro
5. Seus olhos são de que cor? Castanho escuro 
6. Tem namorada (o)? Não 
Responder aquilo começava a me lembrar de novo que tinha terminado com o Victor por causa de mais uma briga.
7. Gosta de ler? Sim
8. Tem melhor amigo (a)? Sim
9. Fala muito no telefone? Sim
Mais uma vez o Victor vinha a minha mente.
10. Qual a sua religião? Adventista
11. Frequenta alguma igreja? Sim
12. Tem animais de estimação? Se sim, quais? Não
13. Gosta de animais? Sim
14. Qual a cor da sua escova de dente? Lilás
15. Você usa computador ou notebook? Notebook
16. Acha funk uma baixaria? Depende
17. Gosta de metal? Sim
Mas a resposta era não.
18. Qual seu ator/atriz favorito? Ashley Tisdale
19. Qual seu cantor/cantora preferido? Taylor Momsen
20. Já foi em algum show? Se sim, de quem? Sim, Jonas Brothers
Mais uma mentira.
21. Qual seu filme preferido? Um amor pra recordar
Droga, Victor nos meus pensamentos de novo. Devia ter colocado Harry Potter, mas também o lembraria.
   22.Qual o seu signo? Libra
23. Pratica algum esporte? Não
      24. Qual o seu time? Corinthians
Na verdade precisava mudar aquilo, se eu não namorava mais o Victor porque deveria continuar torcendo pra ele? Mas não. Eu até que comecei a gostar de torcer pra ele. Era o primeiro time pra qual eu torcia de verdade. E eu tinha trago sorte ao Corinthians naquele ano por estar ganhando o campeonato brasileiro.
  24. Assiste muita tv? Nem tanto
       25. Já pintou o cabelo? Sim
Aquilo era verdade em parte, eu nunca tinha mudado radicalmente a cor. Mas de vez em quando gostava de pintar as pontas de loiro com descolorante pra dar uma clareada no cabelo e quando estar em contacto com o sol, meu cabelo brilhar só pras pessoas elogiar.
25. Já teve um fake no Orkut? Não
Mentira de novo. Eu já tive sim. Queria conseguir falar com um garoto e pra ele me achar bonita fiz um fake só pra conversar com ele, já que na vida real isso provavelmente não aconteceria. O que era mentira, pois ele me achava bonita.
26. Tem medos de filmes de terror? Com certeza.
27. Qual seu tipo preferido de filme? Drama
28. Qual sua comida preferida? Lasanha
Esse questionário parecia não acabar.  
29. Tem medo de altura? Sim
Outra mentira, pois eu viajava sempre de avião. Acho que era mais psicológico.
30. Já quis matar alguém? Imagina
Era claro que eu já quis fazer isso.
31. Já se cortou? Tentei
32. Qual sua pior nota esse ano? 5,5    
Em química, eu odiava aquela matéria.
33. Em que ano nasceu? 1994
34. É viciado(a) em alguma coisa? Sim
No Victor.
35. Usa aparelho? Não
36. Sabe tocar algum instrumento? Não      
37. Se acha feio(a)? Ás vezes 
38. Já participou de alguma passeata? Sim
39. Que roupa mais gosta de usar? Vestido      
40. Já bebeu? Não
Mentira, eu tinha experimentado um gole de vodka.     
41. Já foi picado(a) por algum animal venenoso? Não
42. É alérgico(a) a algum animal? Não
Talvez, eu sempre tive baixa imunidade. Por isso minha mãe me proibiu de ter cachorro, pois quando eu ficava doente os pelos do animal me deixavam pior.       
43. Qual seu poeta preferido? 
Em branco. Não conseguia lembrar de nenhum.      
44. Já sofreu um assalto? Sim
Mas não fui assaltada.
45. Está com saudade de alguém? Sim
E muita. Droga, porque isso só me lembrava o Victor?
46. Tem uma música preferida? Se sim, qual? Again – Bruno Mars
Victor de novo.
47. Já sofreu bullying? Sim
48. Está apaixonado(a)? Sim
Na verdade, estava amando
49. Qual o seu número da sorte? 13
50. Qual a profissão que quer seguir? Psicóloga
Ufa, acabou. Era 10 minutos pra responder e 10 minutos só respondendo e as respostas me fazendo pensar em alguém. Todo esse questionário, me fez lembrar de muita coisa e me fez querer reviver meus melhores momentos, ou seja, Victor. Eu sabia que a nossa história não tinha sido por acaso. Meu coração poderia estar na mão, mas a minha mente voava livre. Eu sentia falta dele, era inevitável. As pessoas me diziam que com o tempo eu iria esquecê-lo e que iria achar outro melhor que ele. Me diziam que não valia a pena namorar a distância, principalmente com um cara que morava em SP. Mas eu nunca fui em acreditar no tempo nem no que as pessoas falavam. Insistimos e vivemos uma história maravilhosa que agora queria ter um final triste. Mas eu podia mudar aquilo. Sabia que mesmo depois, eu e o Victor teríamos que nos encontrar mais uma vez e que o destino assim como tinha feito com a gente há um ano atrás iria nos dar essa chance. Eu tinha esperança e eu precisava mudar a sina que nos consumia. O tempo não apaga o que é verdadeiro, assim como a distância não é o fim pra quem ama. Eu iria atrás do Victor. Estava decidida.

27 de fevereiro de 2011
Contive minhas lágrimas e prossegui com a carta. Afinal, eu tinha estado com ele e toda aquela dor não importava mais.

“02/02/11 10:34 am quarta-feira
Minha nova rotina: acordar, te mandar uma mensagem e depois ficar aqui esperando você me ligar quando sai da escola. Ps, saiba que eu fico pensando em você o tempo todo e como esse tempo demora pra passar, já cansei de tanto olhar pra esse relógio.
Ah, eu acho tão fofa você super curiosa querendo saber da carta, me pedindo a cada minuto pra ler ela. Só faltava pensar que eu não escrevi nada dela já que eu não te mostro.”

Ri com aquele detalhe, me pegava pensando em como eu era insistente querendo saber de tudo o que continha ali desde o dia que ele me contou que estava escrevendo algo surpreendente e que disse que ele não tinha escrito nada só pra poder me mostrar, mas ele não queria. Queria fazer surpresa. Ele era tão fofo.

“O pior é que eu gosto desse jeito seu, que quase sempre consegue o que quer de mim, minha namorada mais linda. Acho que ri bastante quando você tava no telefone implorando pra saber, ai eu fico parecendo malvado por não querer falar nada, pois é, tudo surpresa.
‘Baby I love you, I never want to let you go the more I think about the more I want to let you know that everything you do is super fucking cute and I can’t stand it, I’ve been searching for a girl that’s just like you, cause I know that your heart is true’”

Ai que lindo, pensei. Ele adorava aquela música e eu comecei a gostar de Never Shout Never, justamente por ele. 

“03/02/11 – quinta-feira
Caraca, quando você desligou o telefone eu nem sei o que senti, só sei que naquela hora fiquei com muito medo de ter te magoado e até ouvir a sua voz de novo não consegui ficar tranquilo. Ai veio você com a notícia super boa. Detalhe, contada de um jeito super do mal né? Nossa, eu fiquei com um aperto tão grande no coração quando você disse que não conseguia terminar aquela frase ): super tortura que você fez comigo, porém oq eu importa agora é que faltão 22 dias pro Victor e 23 dias pra Louise, pra ficarmos juntos. Os, me desculpa por ter tocado naquele assunto hoje tá? Desculpa, desculpa, desculpa! E depois de tudo isso resolvi tomar uma decisão. Eu te amo tanto minha namorada”

Nem me lembrava mais daquele dia, só sei que tinha a ver com a Renata.

03 de fevereiro de 2011
Que raiva do Victor. Ele precisava ter me contado que a tal Renata queria ir visitar ele. E que ainda iria coincidir com a minha data planejada? Aquilo era demais pra mim e o pior é que ele queria ver ela. Ok, preciso acabar com essa raiva. Não faz bem, Louise. Não faz. Respirei e fui ver a minha mãe. Ela estava procurando as passagens na internet.
- Você já sabe a data? – perguntei.
- Estava pensando em ir sexta e voltarmos segunda.
- Hm, mas a passagem na sexta tá meio cara não acha? Tenta no sábado pra voltarmos terça. Quero ver se consigo passar pelo menos o dia primeiro com ele pra dizer que comemorei algum aniversário de namoro juntos. – disse escondendo a raiva pós ligação.
- Tá mais barata. 
- É, mas só tem voo pra noite e dai eu mal poderia ficar com ele, já que a senhora quer que a tia nos busque. Mas a volta ainda não compensa.
- Mas quem iria nos buscar?
- Ele né mãe? O pai dele tem carro.
- Nem o conheço.
- Nem eu mãe, por isso essa viagem. Pra gente se conhecer. E o intuito da viagem é justamente estarmos juntos. Pede o endereço pra tia e eu passo pra ele.
- Tudo bem. E que tal voltarmos de ônibus? 
- Mas dai não vou passar menos tempo?
- Eu converso com o meu chefe para voltar na quinta. Eles merecem me dar pelo menos mais dois dias já que trabalho lá há anos e nunca faltei.
- Pode ser. Pois vou finalizar a compra aqui e ligar pro papai pra ele remarcar na agência pra mim. Obrigada, mãe.
- O que as mães não fazem pelos filhos.

Após comprar e remarcar as passagens, pensei como eu iria contar ao Victor sobre aquilo. Afinal estávamos brigados por causa da Renata. Mas eu não conseguia ficar longe dele, só que precisava fazê-lo sofrer um pouquinho. Meu plano já estava em mente. Fui para o meu quarto e disquei o número dele.
- Oi Victor, precisamos conversar. – fingindo uma voz triste.
- Amor, eu sei que vacilei. Me desculpa. Não fica brava. – disse ele desesperado.
- Eu não estou brava, Victor. Eu não posso ficar, mas eu não posso tolerar isso. Por isso, eu preciso... É, eu nem sei como te dizer isso.
- O quê? O que você precisa me dizer?
- Desculpa, mas eu não consigo... é, eu preciso ter...
- Você vai terminar? – ainda mais desesperado
- Eu preciso terminar com...
- Com? Comigo?
- Com os dias tristes. Preciso te dizer que você vacilou e eu precisava te pregar uma peça. Por isso, eu to anunciando que dia 26 eu to ai e se você quiser ser feliz comigo, venha.
- Eu não acredito que você fez isso.
- Você merecia.
- Eu jurei que você ia terminar. Eu pensei mesmo isso. Nossa, o meu coração tá na mão desde que você desligou a ligação. Eu me senti muito culpado e percebi isso agora. Eu te amo Louise, nunca mais eu quero deixar você brava comigo. 
- Eu te amo muito meu amor e agora temos o dia certo pra nos vermos. Que dessa vez nada adie, pois até as passagens da minha mãe estão compradas. Iremos nos ver. Você acredita nisso?
- Ainda não.
- Nem eu.
- Você é a melhor.
- Eu sei.

19 de novembro de 2011
Já passava da meia-noite e eu mal conseguia fechar os olhos. Há um ano atrás, toda a minha vida estava mudando. E agora, tudo aquilo não parecia fazer sentido. Eu estava solteira e aquilo me perturbava. Eu me lembrava como se fosse ontem. Uma sexta-feira, estreia de Harry Potter. Ele tinha me chamado a atenção e um tempo depois disse que me amava. Mas tudo agora parecia brincadeira. Infelizmente, chegamos a decisão final de seguirmos caminhos separados e já faz um tempo que não conversavamos sem sequer ter uma briga. Eu já não me sentia conectada a ele. O que será que aconteceu? Será se alguém podia me explicar como em um segundo estávamos totalmente bem e agora ele partia assim, sem nenhuma explicação. E se tivesse, porque eu não conseguia enxergar? Eu olho para o telefone e quase não possui mais nenhuma mensagem, as únicas que restam são da tim ou jogue agora por 4,99. 27 ligações chamadas e não atendidas. Uma recebida e duas efetuadas. Eu me sinto tão fraca. Me questionava sobre todas aquelas promessas feitas de que ficaríamos juntos não importa o que houvesse e de todo o para sempre. Sonhos que foram cancelados. Promessas quebradas. Tudo está tão confuso na minha cabeça. Começa a rodar um filme feliz com um final triste. Eu pensava que o conhecia. Ou talvez, só fingi que sim. O silêncio me consumia agora. Justo no momento em que precisava de tantas respostas. Não queria que minhas perguntas fossem apenas jogadas ao vento sem que retornasse pra origem. Esse sentimento que tem me dominado, me fere. Será se ele tinha esquecido de tudo o que vivemos? Será se ele realmente falou sério quando dizia que me amava? Até uns dias atrás um eu te amo foi pronunciado, mas como ele não poderia não estar comigo? Eu não conseguia compreender.

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