Conjugação de Acontecer


Eu passei boa parte da minha vida me apaixonando por personagens de seriados, desenhos, filmes e livros. Sonhava que o meu primeiro beijo seria com o Tai Kamiya (vai ver até foi!), que eu namoraria o Ronny Weasley e me casaria com Nate Archibald pra depois me separar e ter um Toby Cavanaugh todinho pra mim. Mas apesar de procurar incansavelmente características desses caras que me atraíam tanto, me entreguei várias vezes a paixões nada a ver cujo eu brincava em achar que era amor.

Nesse tempinho eu quebrei muito a cara só posso dizer. Apesar de ter momentos felizes, as experiências ruins me rodearam. De traição a relacionamento abusivo eu tive que enfrentar. Quase perdi a esperança de que o amor realmente existia na vida real e se ele não era pra ser apenas mera fantasia.

Lutei contra meus próprios pensamentos e contra boa parte dos estereótipos criados pela sociedade sobre final felizes. Percebi que mais cedo ou mais tarde, se eu me permitisse sentir esse sentimento, o amor verdadeiro se escançaria na minha frente.

E foi assim que aconteceu.

É engraçado dizer que bastou uma cena habitual na minha vida se repetir mais uma vez: batom no dente. Batom no dente sempre marcou meus dias depois que larguei os gloss de mão. Eu sempre fui pega por alguém e meio que passo vergonha até esse momento por sair assim. Muitas vezes na correria, outras vezes por descuido mesmo.

E lá estava o destino colocando o cara que não liga até hoje se eu não escovei os dentes caso venha me dar um beijo ou que reclame se meu cabelo tá sem lavar e totalmente bagunçado por conta do corre-corre entre trabalho e universidade.

Esse mesmo cara que as primeiras palavras que trocou comigo me fizeram ficar vermelha não de uma forma positiva, horas depois me pediria em casamento só por compartilharmos o amor por desenho animado.

Imaginar que alguém superaria toda as características sedutoras e apaixonantes de todos os personagens através de uma simples conversa sincera, que te faria suspirar pelos cantos só por estar pensando nele enquanto ele passa o dia na companhia de familiares ou sentir o coração acelerar num simples toque que te arrepia dos pés a cabeça poderia nem ser uma realidade tão distante.

Vai dizer que o amor não é uma coisa louca. Ele é sim! Digo mais, só quem se rende a ele consegue vivenciar experiências que no decorrer do dia-a-dia remetem a mais autêntica forma de afeto encontrado no mundo.

A construção desse sentimento tão puro é percebida no olhar, nas palavras ditas em silêncio, na atenção de ouvir o outro ao compartilhar sobre algo que aconteceu, no alertar quando um vai por uma direção errada, no incentivo quando o parceiro pensa em fraquejar, nos planos futuros criados, no partilhar de sonhos, no simples ato de amar sem porquês nem pra que.

E é assim que acontece.

Sem aviso, essa ligação que conecta os dois te torna um. Não é pelo fato de que você não enxerga a sua vida sem aquela pessoa, é de simplesmente você não querer que exista alguma possibilidade daquela pessoa não seja mais parte da sua vida.

É quando você se pega mudando seus hábitos de dormir sem nem ao menos conseguir explicar ou começa a aprender algo que não é de seu costume só porque automaticamente foi influenciado indiretamente pelo outro, ou seja, os dois sem pedir permissão se mesclam numa adaptação.

Estranho mas coisas assim acontecem.

Agora, escuto a respiração dele pelo telefone já que infelizmente alguns quilômetros e umas paredes nos separam de estarmos juntos. É tarde e provavelmente levarei uma bronca por ficar acordada até a madrugada.

No entanto, pensar que de alguma forma levar essa reclamação por ter alguém pra cuidar de mim, me transborda. Porque o amor é isso, é algo que te preenche mesmo sem ter espaços vazios dentro de si. É querer viver segundo após segundo só pra percorrer uma estrada que não termina no felizes para sempre. É te mudar por completo só pra trilhar com alguém do lado um novo horizonte. É desvendar o maior mistério escancarado do mundo.

E assim nada aconteceria se os meus planos não tivessem sido desfeitos naquele dia ou os planos dele anteriormente. Mas os planos de Deus, uma hora ou outra, iriam acontecer.

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